"O olho e a faca" destaca o doloroso processo de esfacelamento das relações afetivas


Estreia nesta quinta-feira (27) em circuito comercial de cinema o filme brasileiro "O olho e a faca" (2016), do diretor Paulo Sacramento e estrelado pelo ator Rodrigo Lombardi, como Roberto, um engenheiro da plataforma de petróleo, Polvo A. A tônica da narrativa busca explorar as conexões de amizades de homens que trabalham em alto mar perfurando poços de petróleo e cumprindo com todos os manuais de segurança para que nada de errado aconteça ou coloque a vida do outro em perigo.

Nesse ambiente masculino, recluso, distante da terra e da sociedade, Roberto e seus companheiros de trabalho desfrutam de uma harmonia e cumplicidade. Todavia, com a promoção deste para o cargo de chefia, abre espaço para o desencadeamento de eventos que esfacelam aos poucos todas as suas bases de relações afetuosas tanto no âmbito profissional quanto familiar, deixando-o completamente sem rumo e imerso numa sensação de solidão e vazio. 

Com imagens de tirar o fôlego da imensidão do mar e a pequenez do indivíduo, o filme traça um panorama envolvente sobre a rotina desses trabalhadores isolados e apegados à suposta sensação de estabilidade tanto no exercício do cargo quanto na amizade. E, que ao mesmo tempo, transitam na linha tênue do perigo iminente e na vulnerabilidade de suas vidas. 

O roteiro ao concentrar a atenção na jornada de Roberto, expande as particularidades com que este lida com suas relações afetivas. Desde o seu carinho com o filho mais novo ou o conserto da mesa de pebolim da plataforma quanto no distanciamento em relação ao pai ou o descaso para os problemas da casa. 

Essas nuances de comportamentos possivelmente traduzem a plena instabilidade pelo qual o personagem experimenta e, acaba sendo reforçado visivelmente no decorrer do filme. Se no começo da história, Roberto é retratado cercado de pessoas, aos poucos, suas imagens vão dando espaço para uma progressiva solidão e flashes de devaneios. Talvez nesse último aspecto, o drama peque um pouco ao aspirar por um conflito entre realidade versus imaginação apenas no final, dando a sensação um tanto quanto superficial dessa perturbação. 
CineBliss****   




Ficha técnica: 

O olho e a faca (O olho e a faca) 
Brasil, 2016
Direção: Paulo Sacramento
Roteiro: Eduardo Benaim, Paulo Sacramento
Produção: Caio Gullane, Fabiano Gullane, Paulo Sacramento, Rodrigo Castellar
Fotografia: José Roberto Eliezer
Montagem: Paulo Sacramento
Elenco: Rodrigo Lombardi, Luís Melo, Maria Luísa Mendonça, Débora Nascimento,
Roberto Birindelli,

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