"As rainhas da torcida" ilumina a jornada ativa de mulheres na terceira idade


A consagrada atriz estadunidense Diane Keaton, intérprete de personagens icônicos do cinema hollywoodiano como Annie Hall, de "Noivo neurótico, noiva nervosa" (1977) e, Kay Adams, da trilogia de "O poderoso chefão"(1972), em 2019 dá vida e voz a personagem Martha, no filme "As rainhas da torcida", da diretora Zara Hayes. A comédia que estreia nesta quinta-feira (25) nas telonas, tece um olhar sensível, crítico, divertido e ativo sobre as mulheres na terceira idade.

A protagonista Martha, uma mulher sozinha e com mais de 60 anos, decidi vender todos seus objetos e móveis para mudar-se para uma casa de repouso, e viver o tempo que lhe resta longe de todo mundo, em virtude do diagnóstico de câncer. Porém, em Sun Springs, ela desperta para elos de amizades profundos e, principalmente, na realização de um sonho de adolescência. Martha, ao lado da recente amiga Sheryl (Jackie Weaver), uma divertida e extrovertida senhora, iniciam um grupo de mulheres da terceira idade para formarem o primeiro time de líderes de torcida dessa faixa etária.

Se com a personagem Annie Hall, Diane Keaton representou a mulher soberana de si e persistente na busca para realizar o sonho de ser cantora, com Martha não é diferente. Observa-se esse mesmo ativismo em "As rainhas da torcida", com o diferencial da protagonista estar no estágio da velhice e com prenúncio da morte batendo na porta, mas que encontra apetite pela vida ao lado das amigas e resiste para executar seu desejo. Um modo positivo de representar o medo de envelhecer, o medo da solidão e o declínio do corpo. 

Esse último aspecto ganha espaço em várias esferas, tanto nos relatos frequentes das participantes de dores musculares demonstrando a progressiva debilidade da estrutura física, quanto na intenção de debater preconceitos relacionados ao corpo da mulher nessa faixa de idade. Não é à toa a escolha da imagem de líder de torcida. Na maioria das vezes, essa figura apresenta-se envolta de estereótipos como juventude, corpo esbelto, saúde e sensualidade, e contrariando esse modo de representação, o filme busca desconstruir esse imaginário e lançar luz para a selvagem força feminina também na terceira idade, ou seja, elas podem e querem ser sensuais e vivas.   

Vale destacar a sutil, mas não menos presente, crítica ao sistema patriarcal de dominação do homem sobre a mulher. Como exemplo, o marido da personagem Alice (Rhea Perlman) que a proíbe de frequentar qualquer clube da casa de repouso, ou do filho de Helen (Phyllis Somerville), cujo domínio se aplica no controle das finanças e atividades da mãe. Essas ações masculinas de destituir as mulheres de suas próprias vontades, demonstra o quanto o patriarcalismo ainda está presente na sociedade atual. 

Embalado por uma trilha sonora contagiante, "As rainhas da torcida",  logra em pleitear um vigoroso e provocador tema social e dá vazão para a tessitura de um novo olhar sobre as mulheres de terceira idade. Ainda que a protagonista Martha não tenha sua vida tão aprofundada, isso não atrapalha o modo leve, divertido e emocionante ao qual a narrativa se desenvolve. 
CineBliss****



Ficha técnica: 

As rainhas da torcida (Poms)
Estados Unidos, 2019
Direção: Zara Hayes
Roteiro: Zara Hayes, Shane Atkinson
Produção: Ade Shannon, Andy Evans, Cely Jones, Kelly McCormick, Rose Ganguzza 
Elenco: Diane Keaton, Jackie Weaver, Rhea Perlman, Phyllis Somerville

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