"Um amor impossível" flerta com o destino de muitas mulheres em meio à dominação masculina


Para os fãs de histórias de amores repletas de conflitos e reviravoltas, estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas o romance francês "Um amor impossível" (2018), da diretora Catherine Corsini (Um belo verão e 3 Mundos). Baseado na obra de Christine Angot, a narrativa é situada em Châteauroux, no final dos anos 1950, quando a jovem Rachel (Virgine Efire), uma funcionária de um escritório, conhece Philippe (Niels Schneider), um tradutor, viajante e filho de uma família burguesa. Os dois vivem uma bela e breve história de amor, até o momento em que Rachel engravida deste.

Philippe, renuncia o bebê e rejeita qualquer tipo de vínculo afetivo com alguém de uma classe social inferior a sua. Dessa forma, resta a Rachel cuidar da criança sozinha. Com o passar dos anos, ela continua insistindo para que o amor do passado reconheça como filha a então já crescida, Chantal (Estelle Lescure/Camille Berthomier). Nessa busca incessante pelo reconhecimento da paternidade, Rachel não tem olhos para nada mais em sua vida, sua alienação em não ter consciência sobre seu entorno, resulta em consequências dolorosas para todos os envolvidos. 

Todo o desenrolar do longa-metragem é por meio do ponto de vista da protagonista, tendo a voz de Chantal como a narradora. A única exceção é para a cena entre pai e filha se despedindo. A passagem do tempo, desde o romance acalorado entre Rachel e Philippe, a criação solo de Chantal e a revelação arrebatadora, são apresentados sobre apenas uma perspectiva. A diretora comenta essa escolha proposital: "O filme nunca está do lado desse homem; do começo ao fim, ele só existe do ponto de vista de Rachel. Essa é uma das razões pelas quais não há cenas sórdidas no filme"

Embasada sob a ótica de Rachel, observa-se na personagem um contraste de temperamento. Se de um lado, há cenas em que ela demonstra força e coragem para trabalhar e criar sozinha uma criança, em uma época em que os homens dominavam toda a estrutura social. Do outro lado, há sequencias de manifestação de fragilidade, inferioridade intelectual e ingenuidade.

A construção do roteiro com um ritmo clássico no começo, depois o desencanto, a expectativa e o processo fragmentado da percepção, possibilita ampliar a compreensão da relação entre mãe e filha, frente à invisibilidade das mulheres conduzidas por uma geração machista. Dessa forma, a ausência de dramaticidade excessiva, acentua a tensão em momentos determinantes da narrativa. Por exemplo, na reação de raiva ou paralisia de Rachel quando descobre em sequencias diferentes algumas verdades sobre Philippe. 

"Um amor impossível", ao estabelecer como pano de fundo o lado romântico, revela com sutileza a questão da classe social, da opressão e violência contra mulheres e, principalmente, na premissa de destinos de muitas destas que sacrificam toda sua vida por algo maior e que tiram uma força magnífica desse processo. 
CineBliss****


Ficha técnica: 

Um amor impossível (Un Amour Impossible)
França/Bélgica, 2018
Direção: Catherine Corsini
Roteiro: Laurette Polmanss, Catherine Corsini
Produção: Elizabeth Perez, Philippe Logie, Jean Labadie
Elenco: Virginie Efira, Niels Schneider, Estelle Lescure, Camille Berthomier

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