"Rafiki" expressa o desejo e a inocência de amar frente às adversidades


O filme queniano "Rafiki" (2018), censurado em seu próprio país por se tratar de uma temática LGBTQ e aclamado em Cannes na mostra Un Certain Regard, chega nesta quinta-feira (08) nas principais salas de cinema do país. Baseado no conto "Jambula Tree" da premiada escritora ugandense Monica Arac Nyeko, o longa-metragem dirigido por Wanuri Kahiu, aborda o tema da amizade e amor das jovens Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva), residentes de um conjunto habitacional em Nairobi.

O Quênia, país localizado no continente africano, ainda sofre com uma legislação extremamente conservadora em relação aos diretos homossexuais cuja opção é proibida e penalizada por leis quenianas. Nesse ambiente repressivo, o drama acolhe a jornada dessas duas garotas que ao despertarem para a força do desejo e afeição uma pela outra, ousam em desafiar os padrões locais e resistir contra as ameaças dos familiares.

Em virtude de Kena e Ziki estarem em lados opostos, já que são filhas de adversários políticos, há também sinais de contrastes de realidades sociais e comportamentais. Se a primeira trabalha ao lado do pai e gosta de jogar futebol, a segunda, não trabalha e adora dançar. Mesmo com vidas distintas, as duas buscam dar asas a essa afinidade e companheirismo. Não é a toa que o título do filme "Rafiki", signifique amigo em suaíli.

A discriminação, algo recorrente em todo desenrolar do longa-metragem aparece em várias camadas. Seja na hostilização no bar pelos amigos de Kena quando veem um rapaz homossexual, nos discursos proferidos pelo pastor local ou até mesmo na cena chocante das duas sendo alvos de violência por parte dos moradores. Nesse sentindo, o roteiro tece com cuidado essa abordagem e observa-se um profundo respeito pelo tema. Além do preconceito, as duas jovens também estão subordinadas à tutela masculina e seus futuros se restringem a serem meramente boas esposas para seus maridos.

Apesar das protagonistas estarem inseridas em um contexto social de opressão à relação homoafetiva, Kena e Ziki desfrutam de uma luminosidade e colorido em seus corpos e olhares, algo visível tanto na escolha da luz natural da fotografia quanto nas vestimentas de cada uma. Essa composição técnica ao menos permite expressar o doloroso processo de perda da inocência de um modo gracioso e vivo. "Rafiki", deflagra um grito maravilhoso de provocação, reflexão e não menos de resistência. Resistência esta em que o direito de amar é mais forte que qualquer repressão ou intolerância.
CineBliss****

Ficha técnica:

Rafiki (Rafiki)
Quênia/África do Sul/Alemanha/Franca/Líbano/Noruega/Países Baixos, 2018
Direção: Wanuri Kahiu
Roteiro: Jenna Cato Bass, Wanuri Kahiu
Produção: Claire Gadea, Georges Schoucair, Gerhard Meixner, Marie-Pierre Macia, Reinier Selen, Roman Paul, Ruben Thorkildsen, Steven Markovitz, Tamsin Ranger, Verona Meier, Wanuri Kahiu
Fotografia: Ruben Thorkildsen
Montagem: Isabelle Dedieu, Ronelle Loots
Elenco: Samantha Mugatsia, Sheila Munyiva

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