O filme belga "Close" estreia amanhã na plataforma de streaming MUBI

 

Laureado com o prêmio do Grand Prix no Festival de Cannes do ano passado e indicado ao Oscar na categoria Melhor Filme Internacional, o título "Close"(2022), de Lukas Dhont (Girl), estreia amanhã (21) na plataforma de streaming MUBI. Novamente, o cineasta belga traça com delicadeza e cuidado o processo de performance de gênero e como essa construção é inserida no meio social. Se em "Girl" (2018), observa-se o panorama psicológico da escolha consciente de uma jovem bailarina em "adequar" seu corpo para performar o feminino já que nascera com uma estrutura física masculina, em "Close" disseca-se o quão complexo e pernicioso pode ser a obrigatoriedade de performar determinado gênero: no caso, o masculino. 

Essa masculinidade se faz presente entre dois meninos de 12 anos e amigos de longa data, Léo (Eden Damdrine) e Rémi (Gustav De Waele), que esbanjam os laços da amizade de um modo profundo e próximo: brincam constantemente, vão à escola juntos, dormem na casa um do outro e até mesmo dividem a mesma cama. Ao ingressarem em uma nova instituição de ensino, eles começam a sentir os olhares julgadores sobre a proximidade que têm um com o outro. Enquanto o primeiro decide adequar-se ao que lhe é esperado, o outro apela para uma forma trágica de rejeitar certos ditames. 
 
Léo, para ser aceito, enquadra seu comportamento em demonstrar aspectos da masculinidade tais como a agressividade, a frieza e a dureza. Não à toa que ingressa em um time de hóquei e exibe constantemente seu uniforme de tecido grosso e protetor, uma total alusão à esse universo viril e da armadura contra qualquer tipo de demonstração de sentimento. Já Rémi, à lá exposto a exteriorizar suas emoções sofre com dores de barriga ao sentir o distanciamento do amigo e o confronta, para depois reagir em relação aos esforços sociais de controle sobre os modos de convívio de cada um.  
 
Lukas Dhont, tece com total propriedade a angústia desses meninos e, em particular Léo, quando o personagem vê-se imerso em um inquietante poço de vazio e culpa. Se num primeiro momento, sua atitude é encenar o silêncio frente aos seus sentimentos como fizera anteriormente. Logo, ele toma consciência que tal atitude não cabe mais frente ao seu rito de passagem para a adolescência e as consequências que isso envolve. No caso, o ato de ser capaz de comunicar-se com o outro, mesmo que isso possa causar dor. Expressar sua emoção tão contida permite que ele transpasse a barreira de performar o masculino para adentrar no universo do suposto feminino e ver-se livre para transitar no que lhe for melhor.
 
E, é justamente por isso que "Close" possibilita uma imersão reflexiva ao espectador ao questionar o quão nocivo pode ser o sistema de oposições (feminino/masculino) tão impregnado na sociedade ocidental por séculos,  e quais mecanismos e atitudes possíveis para atravessar tais fronteiras desse binarismo.
CineBliss*****
Ficha técnica: 
 
Close (Close) 
Bélgica, 2022
Direção:  Lukas Dhont
Roteiro:  Lukas Dhont, Angelo Tijssens 
Elenco:  Eden Damdrine, Gustav De Waele, Léa Drucker, Émile Dequenne

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