"Adam" mergulha afetuosamente em características tidas como femininas, em particular pela maternidade
O filme marroquino "Adam" (2019), que participou da seleção oficial da mostra Um Certo Olhar em Cannes esse ano e concorre a uma vaga para a lista dos indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional, estreia nesta quinta-feira (14) nas principais salas de cinema do país. Dirigido por Maryam Touzani, estreante na direção de longas, a narrativa contempla um olhar afetuoso e corajoso sobre a maternidade solo, em um local onde as mulheres estão subordinadas à tutela masculina .
Partindo do encontro de duas personagens femininas, Samia (Nisrin Erradi) e Abla (Lubna Azabal), o filme propõe uma imersão na construção de amizade dessas mulheres, uma vez que a primeira encontra-se grávida e à procura de um trabalho e abrigo, e, a segunda é viúva, dona de uma padaria em Casablanca e mãe da menina de oito anos, Warda (Douae Belkhaouda). Num primeiro momento, Abla acolhe Samia um pouco obrigada pela consciência pesada devido a presença da jovem em frente a sua casa, com ares de cansaço após perambular pelas vielas da cidade. Logo, as duas iniciam um processo transformador de despertar e esses eventos afetará a vida de cada uma delas de modos distintos.
Um dos grandes trunfos de "Adam" é seu ritmo. O filme não se apressa. Espera. Permite silêncios. Uma escolha que proporciona digerir a construção da tessitura humana e fraterna dessas mulheres, a observar cuidadosamente a jornada diária ao qual elas empenham suas energias e a refletir sobre o ato de cuidar uma da outra.
Samia e Abla passam a maior parte do filme trabalhando na cozinha da padaria. Nessa ambiente, elas fabricam quitutes apetitosos que promovem a culinária marroquina, divergem entre si, criam intimidade e chegam até mesmo a dançar. Esse último, suscita em uma das mais belas cenas do filme. A personagem de Samia coloca no toca fitas uma das canções favoritas de Abla e a obriga ouvir, assim como a movimentar o quadril. A viúva, contorcendo em sua dor interna imerge em um doloroso processo de dissolução e injeta novas doses de ânimo para sua vida. Um momento de renascimento nutrido pela sensualidade e pelo feminino.
A presença desse feminino sagrado é a força poderosa e ativa de todo desenrolar da narrativa. Seja pelo protagonismo sólido de intérpretes mulheres, pela escolha da fotografia por tonalidades quentes e vivas, pela sensação da casa/padaria de Abla possivelmente simbolizar o útero ou pela ausência de personagens homens. Na verdade, o masculino raramente entra fisicamente em cena, mas as leis e costumes que norteiam essa sociedade fazem com que a sombra deste caráter repressivo de poder aplicado contra as mulheres esteja sempre pairando no ar.
O mérito de "Adam", está justamente em evidenciar de forma cuidadosa e amorosa a busca pela independência financeira feminina, a união e companheirismo de mulheres desconhecidas, e, principalmente, no ato de bravura da escolha pela maternidade ou não, frente às adversidades de uma sociedade opressora das mulheres.
CineBliss*****
Um dos grandes trunfos de "Adam" é seu ritmo. O filme não se apressa. Espera. Permite silêncios. Uma escolha que proporciona digerir a construção da tessitura humana e fraterna dessas mulheres, a observar cuidadosamente a jornada diária ao qual elas empenham suas energias e a refletir sobre o ato de cuidar uma da outra.
Samia e Abla passam a maior parte do filme trabalhando na cozinha da padaria. Nessa ambiente, elas fabricam quitutes apetitosos que promovem a culinária marroquina, divergem entre si, criam intimidade e chegam até mesmo a dançar. Esse último, suscita em uma das mais belas cenas do filme. A personagem de Samia coloca no toca fitas uma das canções favoritas de Abla e a obriga ouvir, assim como a movimentar o quadril. A viúva, contorcendo em sua dor interna imerge em um doloroso processo de dissolução e injeta novas doses de ânimo para sua vida. Um momento de renascimento nutrido pela sensualidade e pelo feminino.
A presença desse feminino sagrado é a força poderosa e ativa de todo desenrolar da narrativa. Seja pelo protagonismo sólido de intérpretes mulheres, pela escolha da fotografia por tonalidades quentes e vivas, pela sensação da casa/padaria de Abla possivelmente simbolizar o útero ou pela ausência de personagens homens. Na verdade, o masculino raramente entra fisicamente em cena, mas as leis e costumes que norteiam essa sociedade fazem com que a sombra deste caráter repressivo de poder aplicado contra as mulheres esteja sempre pairando no ar.
O mérito de "Adam", está justamente em evidenciar de forma cuidadosa e amorosa a busca pela independência financeira feminina, a união e companheirismo de mulheres desconhecidas, e, principalmente, no ato de bravura da escolha pela maternidade ou não, frente às adversidades de uma sociedade opressora das mulheres.
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Ficha técnica:
Adam (Adam)
Marrocos/ França, 2019
Direção: Maryam Touzani
Roteiro: Maryam Touzani
Produção: Nabil Ayouch
Fotografia: Virginie Surdej
Montagem: Julie Naas
Elenco: Lubna Azabal, Nisrin Erradi, Douae Belkhaouda
Marrocos/ França, 2019
Direção: Maryam Touzani
Roteiro: Maryam Touzani
Produção: Nabil Ayouch
Fotografia: Virginie Surdej
Montagem: Julie Naas
Elenco: Lubna Azabal, Nisrin Erradi, Douae Belkhaouda
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