"Ayka" escancara uma jornada angustiante de uma mulher ilegal e sozinha em Moscou


O diretor cazaque de origem russa Sergey Dvortsevoy, responsável por "Tulpan" (2008), lança nas telas de cinema nesta quinta-feira(11) seu mais recente trabalho "Ayka" (2018), cuja participação no Festival de Cannes 2018 contemplou Samal Yeslyamova com o Prêmio de Melhor Atriz. A intérprete, nesta jornada de pura angústia em uma cidade coberta de neve e indiferente ao sofrimento humano, incorpora de modo desconcertante as dores, a fadiga e a respiração ofegante de um corpo em risco, que grita e que sofre.

A personagem-título é uma imigrante do Quirguistão que vive ilegalmente em Moscou. Ao dar à luz, Ayka foge do hospital deixando para trás o recém-nascido. Trabalhando em subempregos - abatedouro de frangos e faxineira - a jovem de 25 anos batalha para juntar dinheiro e pagar uns agiotas que a perseguem. Ao mesmo tempo, Ayka lida com as complicações do pós-parto, a negação da maternidade e busca sobreviver frente às precárias condições de vida. 

O filme começa e termina no hospital, onde Ayka se vê nesses dois momentos diante de uma das mais importantes decisões de sua vida envolvendo o seu bebê. Nessa conjuntura, a questão da maternidade entra como elemento primordial nesse drama sendo destacada em várias sequencias. Tanto através do corpo da protagonista - sofre de hemorragia interna e dores no seio -,  quanto nos poucos personagens com os quais se relaciona. Como por exemplo, a faxineira da loja de pet shop com seu filho ou até mesmo na cachorra ferida amamentando seus filhotes.

Cada caminhada de Ayka pelas ruas de Moscou à procura de trabalho ou contorcida de frio e dor, transmite uma realidade cruel desta sociedade capitalista que se vende como um lugar de oportunidades, porém, não cumpre com todos essa propaganda. Como pode ser visto na cena em que Ayka assiste à um palestrante discursando sobre seu sucesso e, ao pedir trabalho para uma mulher, não consegue. 

Ao longo de todo desenrolar da narrativa observa-se a agitação da câmera grudada na protagonista, com diversos close-ups de seu rosto sofrido ou focando em suas costas. O trabalho da equipe responsável pelo som merece elogios, pois deflagra o ambiente caótico das ruas da capital russa com vários ruídos, ao mesmo tempo que, equilibra o espaço privado da protagonista com o silêncio e apenas o rumor da respiração. Esse conjunto entre a tensão do movimento de câmera, a linguagem corporal da intérprete e os efeitos sonoros, é magnetizante e perturbador.
CineBliss****



Ficha técnica: 

Ayka (Ayka)
Rússia/Polônia/Alemanha/Cazaquistão/China, 2018 
Direção: Sergei Dvortsevoy 
Roteiro: Gennadiy Ostrovskiy, Sergei Dvortsevoy
Produção: Anna Wydra, Gulnara Sarsenova, Li Zhu, Martin Hampel, Michel Merkt, Sergei Dvortsevoy, Thanassis Karathanos
Fotografia: Jolanta Dylewska
Montagem: Petar Markovic, Sergey Dvortsevoy
Elenco: Samal Yeslyamova, Zhipargul Abdilaeva, David Alaverdayan, Sergey Mazur, Ashkat Kuchinchirekov

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