Se em 1979 a personagem de Meryl Streep surpreendeu o espectador ao deixar o filho aos cuidados do pai - interpretado por Dustin Hoffman -, no filme "Kramer x Kramer", do diretor Robert Benton. Em 2019, esta mesma ação é o estopim para discutir a paternidade no filme francês, "A nossa espera"(2018), do diretor Guillaume Senez (9 meses).
No drama, o protagonista Olivier (Romain Duris), vive uma rotina dedicada quase que exclusivamente ao trabalho exaustivo em uma fábrica de encomendas. Não lhe resta tempo para ficar ao lado da esposa Laura (Lucie Debay) e dos filhos Elliot (Basile Grunberger) e Rose (Lena Girard Voss). Simplesmente sem nenhuma explicação, Laura abandona o marido e as crianças e, assim, transfere as responsabilidades de mãe e dona de casa para Olivier. Sem intimidade com essas funções, ele precisa dividir seu tempo para cuidar dos dois, trabalhar, fazer os serviços domésticos e lidar com a dor da ausência da esposa.
O ritual da ida ao trabalho como garantia de sobrevivência, torna-se para Olivier apenas mais um item de sua lista de obrigações, já que estar presente para os filhos exige algo maior como a atenção, o cuidado e o afeto. No meio dessa radiografia do despertar para paternidade, há também uma crítica ao trabalho alienante e desvalorizado da sociedade capitalista. A cada jornada no emprego, Olivier se surpreende com alguma injustiça da fábrica, tanto em demissões sem justa causa como na ausência de relações mais humanas.
Romain Duris, ator francês conhecido pelo filme "Albergue espanhol" (2002), transmite com primor a inércia paterna e a progressiva solidão que toma conta de seu personagem. Tanto que a fisionomia de Olivier projeta de modo crescente a sensação de desorientação e falta de tempo, assim como, o movimento corporal descreve a situação emocional desse pai ao ser visto em praticamente todas as cenas ofegante, cansado e disperso.
O roteiro com a intensa carga dramática, consegue sensibilizar a real e conflituosa experiência paterna, sem deixar-se mergulhar em clichês ou em sequências enfadonhas. Mesmo assim, existe espaço para o saltitar de algumas lágrimas, como por exemplo nas cenas de despedida da tia pós aniversário de Rose ou na pintura da fachada da casa.
CineBliss ****
*Filme visto no Festival do Rio 2018
O ritual da ida ao trabalho como garantia de sobrevivência, torna-se para Olivier apenas mais um item de sua lista de obrigações, já que estar presente para os filhos exige algo maior como a atenção, o cuidado e o afeto. No meio dessa radiografia do despertar para paternidade, há também uma crítica ao trabalho alienante e desvalorizado da sociedade capitalista. A cada jornada no emprego, Olivier se surpreende com alguma injustiça da fábrica, tanto em demissões sem justa causa como na ausência de relações mais humanas.
Romain Duris, ator francês conhecido pelo filme "Albergue espanhol" (2002), transmite com primor a inércia paterna e a progressiva solidão que toma conta de seu personagem. Tanto que a fisionomia de Olivier projeta de modo crescente a sensação de desorientação e falta de tempo, assim como, o movimento corporal descreve a situação emocional desse pai ao ser visto em praticamente todas as cenas ofegante, cansado e disperso.
O roteiro com a intensa carga dramática, consegue sensibilizar a real e conflituosa experiência paterna, sem deixar-se mergulhar em clichês ou em sequências enfadonhas. Mesmo assim, existe espaço para o saltitar de algumas lágrimas, como por exemplo nas cenas de despedida da tia pós aniversário de Rose ou na pintura da fachada da casa.
CineBliss ****
*Filme visto no Festival do Rio 2018
Ficha técnica:
A nossa espera (Nos Batailles)
Bélgica/França, 2018
Direção: Guillaume Senez
Roteiro: Guillaume Senez, Raphaëlle Desplechin
Produção: Bart Van Langendonck, David Thion, Isabelle Truc
Fotografia: Elin Kirschfink
Montagem: Julie Brenta
Elenco: Romain Duris, Lucie Debay, Basile Grunberger, Lena Girard Voss
Comentários
Postar um comentário