Em 2017, o diretor norte-americano Darren Aronofsky (Cisne Negro, Réquiem para um sonho) provocou um certo rebuliço entre os amantes do cinema com o lançamento do filme "Mãe", em que articulou cinematograficamente seu olhar sobre a versão bíblica da criação do mundo em que figuras como - Adão, Eva, Caim, Abel - transitavam dentro do micro espaço de um casarão em construção de um casal recém-casado. Já em 2023, ele novamente adentra para o espaço privado de uma casa escura para expor com total domínio o peso da culpa, em particular da culpa cristã com "A Baleia"(2022), disponível nas principais salas de cinema do país.
Laureado em 2023 com o Oscar de Melhor Ator pelo filme, Brendan Fraser retorna ao cinema hollywoodiano após anos de ostracismo com uma interpretação em estado de graça do personagem Charlie, um professor universitário que ministra suas aulas on-line com a câmera desligada. Já a câmera do diretor, adentra a intimidade desse homem solitário e revela a estrutura física deste sujeito composta por pesadas camadas de gordura, as dificuldades para simplesmente levantar do sofá e caminhar pela casa com ajuda de um andador, condição esta que afeta drasticamente sua saúde.
Encenado praticamente nos cômodos da casa de Charlie, especialmente a sala de estar e a cozinha, o filme nutrido de uma paleta de cores escuras e com pouco espaço para entrada de luz pelas janelas, projeta a sensação de desconforto, angústia e claustrofobia que possivelmente habita o interior desse personagem cujo único contato com o mundo exterior se dá através de três pessoas que adentram com certa regularidade seu espaço: a enfermeira e amiga Liz (Hong Chau), o jovem religioso Thomas (Ty Simpkins) e, a filha Ellie (Sadie Sink).
Cada um desses personagens quando abrem a porta da casa, saem do espaço público para o privado e vem embriagados com suas cicatrizes e medos, seja no âmbito de querer ajudar como Liz em sua constante atenção e cuidado, seja na forma de persuasão religiosa ou até mesmo na profundidade de discutir sobre abandono paterno com Ellie. Por outro lado, encontra-se a figura de Charlie, imerso em sua própria ferida de ter escolhido vivenciar seu grande amor e por conta de um acaso do destino, ver-se sucumbido a preencher o vazio deixado pela ausência da pessoa com a ingestão constante de fast food. Como uma forma de punir o outro pelo abandono, ato que também cometeu com a filha no passado.
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