"Paloma" flerta com docilidade a luta pela realização de um sonho em um país preconceituoso


O diretor pernambucano Marcelo Gomes (Estou me guardando para quando o Carnaval chegar; Cinema, Aspirinas e urubus) verbaliza novamente através de imagens as inquietações de grupos de pessoas inseridas dentro do contexto marginalizado no filme "Paloma" (2022), quando dá voz para uma mulher trans que sonha em casar-se na igreja católica com seu companheiro. O título que já percorreu diversos festivais internacionais de cinema e foi laureado no Festival do Rio com vários prêmios, chega nas principais salas de cinema do país nesta quinta-feira (10).
 
Paloma (Kika Sena), uma agricultora que nas horas vagas exerce a função de cabeleireira, tem uma vida tranquila ao lado de Zé (Ridson Reis) e sua filha. Tocada pelo anseio de oficializar a relação perante um padre e o ritual cristão, ela tenta de todas as maneiras essa realização, até mesmo em escrever uma carta para o papa contando sua história.   

Inserida dentro de uma realidade de luta pela sobrevivência seja pela classe social quanto também pelas questões de gênero e sexualidade, e o analfabetismo, a protagonista tenta driblar esses atenuantes de cunhos preconceituosos e de desigualdade social ao buscar na sacralização do matrimônio um selo de pertencimento à sociedade. E, a atriz Kika Sena, entrega com primor essa jornada ao transpassar nos olhares e trejeitos uma pessoa apaixonada, encantada e com ares doces, mas que ao ser provocada transborda sua fúria e resistência. 

Com um roteiro costurado para dramatizar a exclusão de mulheres trans do que é permitido ou não fazer, "Paloma" ressignifica ideais caros para o patriarcalismo como a questão da família ao apropriar-se do discurso e lutar para vivenciá-lo, mesmo que isso ecoe na comunidade em um espiral de ódio e violência.
CineBliss*****





Ficha técnica: 

Paloma (Paloma) 
Brasil,2022
Direção: Marcelo Gomes 
Roteiro: Marcelo Gomes, Armando Praça 
Elenco: Kika Sena, Samya De Lavor, Suzy Lopes

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