"Deserto Particular" demonstra com sensibilidade a desconstrução do ideal da masculinidade perversa e violenta
"Deserto Particular", filme representante do Brasil na disputa ao Oscar 2022 e laureado no Festival de Veneza esse ano com o prêmio Melhor Filme Júri Popular, estreia amanhã nas principais salas de cinemas do país. Orquestrado pelo diretor Aly Muritiba (Ferrugem, Para minha amada morta), a narrativa traça na distinção de dois cenários a jornada de um homem em busca de acolhimento e afeto, características estas tidas como femininas e tão ausentes em seu meio profissional e privado.
O homem em questão é Daniel (Antonio Saboia), um policial da cidade de Curitiba que por conta de um comportamento extremamente brutal é afastado da corporação, e ao mesmo tempo cuida do pai doente, um sargento aposentado. Inserido dentro de meio com predominância do masculino, esse personagem fragmentado por conflitos internos decidi cruzar o país até o município de Sobradinho, na Bahia, para tentar se encontrar pessoalmente com Sara, mulher com quem se relaciona virtualmente.
De uma realidade fria e cinza, Daniel dirigi-se para o calor e o amarelo da terra e do sol deste novo lugar que lhe reserva uma imersão em suas entranhas, coloca-o em xeque sua masculinidade e abre brechas para seu contato com suas fragilidades, vulnerabilidades e responsabilidades. Não é à toa que em uma das sequencias Daniel é questionado do seguinte modo: "Não dá mais para achar que pedir desculpas, desculpa tudo".
Se esse protagonista transita nessa tentativa de desconstrução dessa virilidade masculina perversa e violenta, o mesmo não se pode dizer sobre Sara. A personagem dotada de uma clareza sobre quem é e o quanto seu corpo ainda está suscetível à violência, reverbera através da delicadeza, da autoconfiança e da leveza, um possível despertar para Daniel.
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