"A espiã vermelha" compartilha a versão feminina sobre o universo da espionagem


Narrativas cinematográficas envolvendo o universo da espionagem com a névoa de tensão e incerteza pairando no ar sobre os personagens é algo recorrente. No entanto, raras são às vezes que esse modelo é aplicado para o protagonismo feminino, ou seja, a mulher como a agente ativa nesse labirinto conflitante entre passar adiante ou não a informação confidencial. Essa exceção é a matéria-prima para o filme "A espiã vermelha" (2018), que estreia amanhã (16) nas principais salas de cinema do país. 

Dirigido pelo inglês Trevor Nunn, o longa-metragem acompanha a aposentada Joan Stanley (Judi Dench), quando inesperadamente tem sua vida mudada com a visita do serviço secreto britânico MI5. Ao ser interrogada pelos investigadores, a narrativa desloca-se do presente para o passado da protagonista - interpretado por Sophie Cookson -, em sua chegada na Universidade de Cambridge, em 1938.

Nesse período, o espectador imerge na jornada de Joan quando ingressa em um cineclube do partido comunista e, logo se apaixona pelo militante, Leo (Tom Hughes). À partir desse encontro, de seus estudos e trabalho na área de física e suas convicções, a protagonista se solidariza em compartilhar dados com o Comitê de Segurança Russo (KGB), sobre o projeto secreto envolvendo a construção da bomba atômica.   

O filme baseado na história real de Melita Norwood - uma inglesa descoberta como espiã aos 87 anos -, constrói o roteiro com o cruzamento entre o passado e o presente, enaltecendo o protagonismo feminino por meio da independência, da inteligência e intuição de Joan. A personagem dotada de um espírito moderno, destaca-se por ingressar na Universidade na área de ciências, ter amantes e, principalmente, na convicção de lutar por um ideal, aspectos bem incomuns para mulheres no final da década de 1930. 

Esse retrato singular da espionagem desempenhada por uma mulher nesse período, transparece a imensidão da divisão entre homens e mulheres, uma vez que o universo feminino é mostrado com total desconhecimento e pavor por parte de alguns personagens masculinos. Como na sequencia do soldado ao abrir a bolsa de Joan e deparar-se com uma caixa de absorvente. Esses apetrechos femininos tornam-se aliados para se sobressair nessa empreitada e não levantar suspeitas em um mundo machista. 

Com uma fotografia distinta pela tonalidade cinza (representando o presente) e cores quentes (para o passado), o filme proporciona uma história profundamente imersiva, complexa, política e, por que não, também romântica. Um vislumbre bem construído da possibilidade de uma mulher ser visível e contribuir para um mundo melhor em um período dominado pelos homens. 
CineBliss**** 





Ficha Técnica: 

A espiã vermelha (Red Joan)
Reino Unido/ Irlanda do Norte, 2018
Direção: Trevor Nunn
Roteiro: Lindsay Shapero
Produção: Alice Dawson, David Parfitt
Fotografia: Zac Nicholson
Montagem: Kristina Hetherington
Elenco: Judi Dench, Sophie Cookson, Tom Hughes, Steven Campbell Moore, Teresa Srbova, Ben Miles

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