"Querido menino" disseca a dor paterna frente ao vício em drogas do filho


O cinema de um modo geral já expõe nas telas diversas histórias de adolescentes cujos futuros promissores foram esfacelados por razão do consumo excessivo de drogas, dois exemplos marcantes são: "O diário de um adolescente", de 1995, e "Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída", de 1981. Ambas histórias partiam da jornada dos dependentes químicos frente aos sofrimentos, a extasie, a perambulação e a solidão desse universo cruel e, ao mesmo tempo, sedutor. O filme que estreia hoje nos cinemas "Querido Menino" (2018), do diretor Felix Van Groeningen (Alabama Monroe), retrata esse caminho espinho das drogas na juventude com o diferencial da narrativa ser conduzida sob o olhar cuidadoso e atencioso do pai.

A figura paterna no caso é interpretada pelo ator Steve Carell, que dá vida ao jornalista e escritor David Sheff quando este tem sua rotina completamente abalada ao descobrir que seu primogênito, Nic Sheff (Timothée Chalamet), usa todos os tipos de drogas e é viciado em metanfetamina. Sem saber como lidar com a situação, David busca todos os meios possíveis para ajudar o filho a se recuperar e abandonar essa dependência química.

Narrado de forma não linear cujo passado e presente se intercalam, o espectador se depara com o lar acolhedor onde Nic passara a infância, o convívio dele com a segunda esposa de David, Karen (Maura Tierney) e os dois filhos oriundos dessa união e, principalmente, a relação de amizade e cumplicidade entre ele e o pai. Toda essa estrutura familiar exposta de forma afetuosa, se vê submersa em um mundo desconhecido e obrigada a procurar outros mecanismos para compreender a devastação que um dependente em drogas pode causar a todos os envolvidos, incluindo o próprio. 

A questão do acolhimento é ressaltada em todo decorrer da história, seja pelas sequencias com abraços entre David e Nic, quanto na tonalidade da fotografia direcionada para cores quentes e vivas que perpassam a sensação de proteção, segurança e amor.

Destacam-se as performances de Steve Carell e Timothée Chalamet, o primeiro por empregar um olhar carinhoso e ao mesmo tempo devastador frente a progressiva destruição de seu filho e, o segundo, por reverberar com precisão a fragilidade dos anseios humanos entre a vontade de querer parar de usar drogas e, minutos depois, injetar mais uma dose, ou seja, o caminho tortuoso entre as internações em clínicas de reabilitação e as recaídas. Não é por menos que o ator Timothée Chalamet foi indicado ao Globo de Ouro 2019 na categoria Melhor Ator Coadjuvante.

O filme baseado nas memórias do próprio Nic Sheff, lança luz sobre um tema recorrente em pessoas de diferentes classes sociais e raças, uma vez que mesmo uma família branca, classe média americana e heterossexual, considerada como padrão para a sociedade de uma base familiar "estruturada", também está sujeita a encarar de frente o desarranjo de destino de um ente querido.
CineBliss***




Ficha técnica: 

Querido menino (Beautiful boy) 
Estados Unidos, 2018 
Direção: Felix Van Groeningen
Roteiro: David Sheffield, Felix Van Groeningen, Luke Davies, Nic Sheff
Produção: Brad Pitt, Dede Gardner, Jeremy Kleiner
Fotografia:  Ruben Impens
Montagem: Nico Leunen
Elenco: Steve Carell, Timothée Chalamet, Maura Tierney, Amy Ryan

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