CineBliss marca presença novamente no International Film Fest Gent e confere o filme brasileiro "O útimo azul"

 

O blog CineBliss teve o privilégio de conferir pelo segundo ano seguido o International Film Fest Gent, na Bélgica, com a exibição do filme brasileiro "O último azul", do diretor Gabriel Mascaro (Boi Neon; Divino Amor). A sessão que ocorreu no último sábado (11), além de estar lotada contou com a presença do cineasta para comentar um pouco sobre sua inspiração e o processo criativo de sua narrativa, tão marcada pela complexidade de resistir quando o senso comum insiste em silenciar os que já passaram "de certa idade".

Nesse drama situado em um Brasil distópico, vive a senhora de 77 anos, Teresa (Denise Weinberg), trabalhadora em um frigorífico. Ao ser coagida pelo governo a se juntar com outras pessoas da mesma idade para a tal da "Colônia", ela decide primeiro realizar o sonho de viajar de avião. Nessa ânsia por vivenciar algo que pulsa em sua alma, ela mergulha em uma aventura pelo coração da Amazônia e os encantos de seu rio. 

Teresa, ao incutir sua vontade na trajetória de sua vida, traça um caminho de rebelião e resistência contra o sistema e a todos que à veem como alguém sem fome de viver. O diretor Gabriel Mascaro, comentou que seu desejo era justamente de mostrar essa subversão vinda de uma pessoa mais velha por não encontrar casos semelhantes no cinema. Para ele, a rebeldia na sétima arte vem geralmente associada aos jovens e adolescentes e, não com pessoas dessa faixa etária.

Impregnado pelo cenário da floresta amazônica de encantar os olhos, Teresa desperta não só para a paisagem à sua volta como também para conhecer novas pessoas e histórias, assim como a experimentar vivências que nunca imaginara. Observa-se aqui, o quanto o filme pulsa em retratar a busca pelo tesão da vida e o quanto isso destina a personagem a sentir a liberdade de poder ser quem realmente quer ser.

É de uma notoriedade poética a forma como é criada a amizade entre Teresa e Roberta (Miriam Socarrás). Mesmo com seus diálogos em "portunhol", as duas transitam com maestria nesse território tão sagrado das anciãs,  agarrando com toda força suas potências e não permitindo que sejam controladas ou silenciadas por ninguém. Ambas exalam corpos que carregam em seus íntimos marcas profundas de suas existências, mas que transpiram desejo pela vida por todos os poros. 

Se em "Divino Amor"(2019), a protagonista Juliana (Dira Paes) tinha a sede de gestar uma vida em seu ventre custe o que custar, em "O último azul" a busca de Teresa é por conectar e reproduzir a si mesmo, ainda que lhe digam que seu futuro pertence ao estado e não a ela.

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