Com o tema "Amor materno: instinto natural ou construção social?" o grupo Jornada da Heroína discutiu o filme "Tic-Tac: A Maternidade do Mal"
O grupo Jornada da Heroína deu continuidade ao tema "Amor materno: instinto natural ou construção social?" e discutiu na semana passada o último filme deste lote: "Tic-Tac: A Maternidade do Mal" (2023), da diretora Alexis Jacknow. Com uma narrativa operando na chave do horror, o filme ancorado sob as diversas conquistas do movimento feminista ocidental expõe a jornada de uma mulher casada e realizada profissionalmente que escolhe não ser mãe.
Ella Patel (Dianna Agron), uma design de interiores com ascendência judia no auge dos seus 38 anos, encontra-se em um momento de sua vida em que a pressão social para tornar-se mãe ultrapassa as fronteiras de seu entendimento. Seja do lado de suas amigas com a pergunta "Por que você não quer filhos?"; da sua figura paterna para que dê continuidade à linhagem das matriarcas; da própria medicina ao estabelecer que em termos de fertilidade ela já esbarra no estereótipo de velha; ou até mesmo de seu marido que num primeiro momento faz-se compreensível com tal situação, mas depois descobre-se sua manipulação para que ela mudasse de ideia.
Curioso observar que no começo da trama quando ela participa de um chá de bebê de uma de suas amigas esta se faz presente na tela ora de costas ora em plano distinto do grupo de mulheres, numa possível alusão ao seu não pertencimento.
Por conta dessa tensão, Ella desiste de um grande projeto profissional para internar-se em uma clínica especializada em "curar" essa ausência de instinto pela maternidade através de métodos experimentais que envolvem medicamentos à base de hormônios e terapia. Tal como ela, o local também conta com a presença de outras mulheres que anseiam pelo mesmo objetivo.
Imerso em diversos simbolismos, Ella submete-se a diversas práticas evasivas em seu corpo e mente ao ponto de permitir o implante de um dispositivo em sua vagina, como uma forma de controle. Por conta de tal ação, ela vem a sofrer alucinações e uma suposta vontade de se render a sua "predestinação" materna.
No entanto, conforme tenta retomar com sua rotina após ter alta, ela depara-se com diversas provações que lhe possibilitam questionar seu real desejo sobre ser mãe ou não. Em sua sede por voltar a ter controle sobre suas decisões e sobre seu corpo, ela toma posse de sua raiva e inicia uma peregrinação de vingança contra todos que lhe impuseram tal imposição. Como exemplo, tem-se a cena da retirada bruscamente do implante e, com isso, o retorno de seu sangramento e do colorido da vida.
Observa-se em "Tic-Tac: A Maternidade do Mal", a intenção da diretora em criticar o processo de medicalização que se instaura com relação a escolha pessoal de uma mulher pela não maternidade como uma doença que necessita ser curada através da ciência. Tal perspectiva dialoga com as concepções que a filósofa francesa Elizabeth Badinter em "O conflito: A mulher e a mãe" (2011), identifica na atualidade o ressurgimento do discurso da "natureza feminina" estar atrelada à maternidade em que ela intitulada como "revolução silenciosa". A mesma considera esta naturalização como entrave para a recém-conquistada liberdade de escolha das mulheres.
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