"Raia 4" esculpe com sensibilidade as descobertas na pré-adolescência

 

Com a abertura de algumas salas de cinema ao redor do país as estreias cinematográficas despertam para florescerem novamente nas telonas, como é o caso do filme brasileiro "Raia 4", do realizador Emiliano Cunha, que será lançado nesta quinta-feira (06) nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, e no dia 20 de maio nas plataformas digitais NOW, Google Play, Apple Tv, iTunes e Youtube Filmes. Laureado com três prêmios no Festival de Gramado nas categorias Melhor Longa Gaúcho,  Júri da Crítica e Fotografia, a narrativa explora os dispositivos das descobertas sexuais da juventude. 

Sob o ponto de vista da personagem Amanda (Brídia Moni), uma pré-adolescente de 12 anos, quieta, focada na rotina disciplinar de uma atleta de natação e com pouca comunicação com os pais, a trama esculpe as angústias, as incertezas, as cobranças e os desejos dessa fase etária da vida de uma menina de classe média alta. Ao emergir em uma aproximação com a colega de treino Priscila (Kethelen Guadagnini), a jovem desperta para pulsões até então desconhecidas.

O filme começa e termina em cenas semelhantes da personagem imersa na piscina. Local este de extrema importância para Amanda não só no sentido da atividade física em si, como também de cunho simbólico, haja visto que este assume a condição de transmitir segurança e intimidade semelhante ao útero materno. Algo que não é visto na relação entre a mãe e a filha. As duas transitam por uma linha tênue de apreensão na forma de conviverem, seja nas constantes intervenções da genitora no cabelo da moça ou até mesmo da protagonista em querer esconder sua primeira menstruação da mesma.

As regulares imersões no fundo da piscina por parte da jovem nadadora, também alude desse ser o repositório das tensões que a cercam, o abrigo para fugir das sensações e como ambiente para fluidez desse corpo em expressar-se, competir, gritar, movimentar e aflorar. Corpo este que ganha destaque em praticamente todo desenrolar da narrativa visto não só na protagonista assim como em seus colegas de treino. Numa possível denotação das transformações da adolescência, tal qual como objeto de desejo entre os envolvidos. 

"Raia 4", ao alocar a narrativa em uma atmosfera de natação competitiva, na cidade de Porto Alegre, debruça com ares de suspense um ritmo vagaroso e introspectivo do rito de passagem da personagem Amanda, e transita com desenvoltura os elementos que assombram em sua maioria pré-adolescentes confinados em pressões oriundas de vários destinos.
CineBliss**** 

Ficha técnica: 

Raia 4 (Raia 4)
Brasil, 2019
Direção: Emiliano Cunha 
Roteiro:  Emiliano Cunha 
Elenco: Brídia Moni, Kethelen Guadagnini, Arlete Cunha, Fernanda Carvalho Leite 

Comentários