"Mães de Verdade" potencializa uma radiografia significativa sobre o instinto nutridor


A cineasta nipônica Naomi Kawase, responsável pelas obras Esplendor (2017) e Sabor da Vida (2015) mais uma vez arrebata o público com uma narrativa de alta dosagem de sensibilidade e contemplação das relações humanas por meio de seu mais novo trabalho "Mães de Verdade" (2020), que estreou recentemente nas salas de cinemas abertas pelo país. O filme selecionado para o Festival de Cannes do ano passado traça com total desenvoltura diversas facetas da maternidade. 

De um lado, encontra-se o casal Kiyokazu Kurihara (Arata Iura) e Satoko (Hiromi Nagasaku) ávidos por serem pais, porém devido a infertilidade do marido decidem adotar um bebê. Do outro lado, tem-se a provedora para a realização do sonho dos dois, a adolescente Hikari Katakura (Aju Makita), que mesmo amando seu filho vê-se obrigada à entregá-lo para adoção por conta de uma pressão familiar. Essas pessoas desconhecidas entre si são unidas através do elo da criança Asato (Reo Sato). Após seis anos do processo adotivo, a mãe biológica resolve aparecer para pedir o filho de volta ou em troca uma quantia de dinheiro. 
 
Essa premissa é algo ínfima comparada na imersão afetiva ao qual a cineasta propõe ao seu público. Com um ritmo lento e poeticamente sensitivo, a narrativa se faz presente sob o ponto de vista das duas mães: a biológica e a adotiva. Essas duas personagens femininas embriagam a tela com uma chuva de emoção e amor. Cada uma imersa em seus próprios conflitos potencializam uma radiografia significativa sobre o instinto nutridor. Seja no acolhimento, no afeto, no ato de educar ou até mesmo na renúncia e na expulsão. 

Se por um ângulo, há exposição profunda do laço entre Kiyokazu e Asato que mesmo sem a ligação do cordão umbilical os dois transbordam o sentimento comum entre mãe e filho. No sentido oposto, esbarra-se em Hikari, que logo após engravidar mergulha de cabeça em uma jornada solitária de transformação e provação. 

"Mães de Verdade", baseado no romance de Mizuki Tsujimura, de 2015, novamente possibilita Naomi Kawase a dedicar-se por completo em jornadas de protagonistas mulheres e suas peculiaridades. Assim como nas obras anteriores da cineasta, suas personagens ecoam a vida em total sintonia com as transições do ciclo da natureza. Cada escolha dessas figuras femininas vem acompanhado por um bailado primoroso das folhas ou flores, como se o vento de respiro da tela invadisse o pulmão do espectador para um novo olhar para sua própria relação com as pessoas e o meio ambiente. 
CineBliss*****


Ficha técnica: 
 
Mães de Verdade (朝が来る)
Japão, 2020
Direção: Naomi Kawase
Roteiro: Naomi Kawase, Izumi Takahashi,An Tôn Thât.
Elenco: Miyoko Asada, Tetsu Hirahara, Arata Iura

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