Garimpagem CineBliss: "Pássaros de Verão" apropria-se da cultura dos povos originários para narrar uma jornada familiar

 

 

O filme colombiano de 2018, Pássaros de Verão, em um coprodução com México, Dinamarca, Alemanha, Suíça e França, aborta por meio de uma família de nativos Wayúu um retrato epistemológico indígena e o quanto os anseios da comunidade define o destino das pessoas. Dos realizadores Ciro Guerra e Cristina Gallego – ambos nascidos na Colômbia -, o espectador é conduzido através de uma linha cronológica iniciada no final da década de 1960 e começo de 1970, para a ascensão do plantio de maconha neste território considerado sagrado. 

 

As primeiras imagens da narrativa já demonstra o alto teor de valorização da ancestralidade, uma vez que a jovem Zaida (Natalia Reyes) ao lado de sua mãe Úrsula (Carmiña Martínez), apronta-se para uma apresentação ritualística para toda a comunidade. Vestida com um manto vermelho que cobre todo corpo e os cabelos, Zaida dentro de um círculo formado por pessoas, desafia seu irmão mais novo através de deslocamentos que assemelham-se a uma dança. 

 

Nesta cerimônia, a personagem é instigada à cumprir com as mesmas ações para com Rapayet (José Acosta). Esse acontecimento faz com que os dois iniciem um destino conjunto, em virtude deste pedir a mão da jovem em casamento. Para pagar o dote demandado por Úrsula, ele inicia uma jornada de venda de maconha para os norte-americanos junto com seu melhor amigo, Moisés (Jhon Narváez), um moço visto com maus olhos pelos membros da Wayúu, em razão dele por não pertencer ao clã, não respeitar os costumes e não falar a língua dos povos originários, e sim, o castelhano. 

 

O advento do tráfego de drogas não só possibilita a união do casal Naida e Rapayet, como também em uma ascensão social de vários integrantes da comunidade. Porém, esse sucesso vem nutrido por preços trágicos à serem pagos. Por conta de uma traição envolvendo Moisés, há um desarranjo de destino para com várias famílias deste corpo social, o que abre brechas para conflitos de extrema violência como tiroteios, mortes e estupro. O ciclo de infortúnios denúncia a varredora das tradições, dos costumes e dos valores dos nativos Wayúu, ocorridas por conta da entrada do dinheiro do homem branco capitalista e a ganância despertada em quase todos. Uma das únicas sobreviventes deste fim trágico, é uma menina assombrada pelo trauma familiar e desapossada do legado de sua ancestralidade. 

 

Pássaros de Verão, transita com precisão na ambiguidade que envolve a comunidade Wayúu. Se de um lado, há introdução de elementos de cunho capitalista para o advento do lucro e do acúmulo de bens, como reforçado pela emblemática expressão dita por um dos personagens: “Não ao comunismo. Viva o capitalismo!”. Do outro lado, há questões das tradições que ecoam nas decisões tomadas pelos pertencentes do clã. Esta valorização da ancestralidade e dos seguimentos dos valores e costumes Wayúu são reverberados através da personagem Úrsula. Ela corporifica uma figura ligada às raízes espirituais, e numa força engajada pela defesa dos interesses da família e do clã. 

CineBliss*****

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Ficha técnica: 
 
Pássaros de Verão (Birds of passage)
Colômbia/México/Dinamarca/Suíça/França, 2018
Direção: Ciro Guerras, Cristiane Gallego
Roteiro: Jacques Toulemonde Vidal, Maria Camila Arias
Elenco: José Acosta, Carmiña Martínez, Natalia Reyes, Jhon Narváez

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