"Meu Pai" desbrava inquietações de potência humana no tocante aos laços afetivos

 

O ator galês Anthony Hopkins, ganhador do Oscar e interprete de um dos personagens mais famosos do cinema, o serial killer canibal Hannibal Lecter, do filme O silêncio dos inocentes (1991), no auge de seus 83 anos de idade desponta como um dos favoritos na corrida da premiação deste ano pela atuação primorosa no drama "Meu Pai" (2020), do dramaturgo francês Florian Zeller. O filme que ainda concorre em mais cinco categorias incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro, Melhor Edição e Melhor Design de Produção, é uma adaptação da peça teatral do diretor. 
 
Com a estreia na última quinta-feira (08) nos cinemas das cidades do Rio de Janeiro, Brasília e Florianópolis, e, nas plataformas digitais Belas Artes À La Carte, Now, Itunes (Apple TV) e Google Play,  "Meu Pai" edifica uma sofisticada e delicada relação entre pai e filha. Anthony, com seus 81 anos de idade vive sozinho em seu apartamento em Londres e recusa a ajuda de enfermeiros ou cuidadores. Quando a filha Anne (Olivia Colman), decide mudar-se para Paris ao lado de seu companheiro há o impasse em não deixar a figura paterna desacompanhada. 

Comentar mais algum detalhe sobre o filme soaria um tanto quanto um desserviço para com o espectador,  pois o modo como a narrativa se desenrola de forma labiríntica e ao mesmo tempo em um balé de emoções, permite uma imersão em simplesmente não tentar entender, mas sim, sentir. Abrir a alma para experimentar uma vazão de sensações através do laço afetivo entre os dois: a vulnerabilidade, a raiva, o afeto, a tristeza, a euforia e outras tantas.  
 
A interpretação e a química entre os atores Anthony Hopkins e Olivia Colman, vibra por meio dos detalhes o flerte carinhoso do elo entre os dois personagens. Seja na contenção de sentimentos ou na demonstração, como no simples gesto de tocar o rosto da filha. Se o primeiro insiste em permanecer sozinho em seu apartamento com sua rotina. A segunda, por sua vez busca por não privar-se de recomeçar sua vida em outro país. Um conflito embriagado pelo cuidado, amor e culpa que são brilhantemente conduzidos por ambos.
 
Situado praticamente dentro do apartamento de Anthony destacando os móveis, os objetos e o abrir e o fechar de portas, a narrativa constrói com precisão o grau de enclausuramento sentido pelo protagonista. Elementos estes de extrema importância para alavancar o contexto de não deixar-se enganar pelas aparências. 

Se por um momento, o filme possa indicar alguma analogia com o drama francês "Amor" (2012), de Michael Haneke, cuja trama também perpassa pelas fragilidades e crueldades em relação ao corpo de uma pessoa na terceira idade."Meu Pai", desloca-se para outras inquietações - abandono, medo, insegurança, confusão e solidão - o que de uma certa maneira rompe com supostos clichês concernentes ao tema e sensibiliza para angústias inerentes no âmago de qualquer pessoa. 
CineBliss*****
 

 
Ficha técnica: 

Meu Pai (The father)
Reino Unido, 2020
Direção: Florian Zeller
Roteiro: Christopher Hampton, Florian Zeller
Elenco: Anthony Hopkins,Olivia Colman, Olivia Williams 

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