"Culpa" provoca uma experiência inquietante com alto grau de tensão e mistério


O toque sonoro de uma ligação telefônica para algumas pessoas pode sinalizar a ocorrência de alguma notícia alegre ou catastrófica, no caso de pessoas que trabalham em centrais telefônicas de emergências, o som do telefone quase sempre está relacionado ao último caso. Partindo desse pressuposto, o filme dinamarquês que estreia hoje nos cinemas, "Culpa" (2018), do diretor estreante Gustav Mölle, busca conduzir sua história de tensão e mistério.

"Culpa", escolhido para representar a Dinamarca na corrida ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro", parte de uma trajetória de 88 minutos em que o espectador praticamente acompanha cada suspiro do ex-policial, Asger Holm (Jakob Cedergren), na central de atendimento de emergências. Em cada ligação atendida, o protagonista demonstra uma certa insatisfação, no entanto, em uma dessas ocorrências, ele se depara com o sequestro de uma mulher chamada, Iben (Jessica Dinnage).

À partir desse evento, cada toque sonoro de telefone ou simplesmente o silêncio do personagem se transforma em um mergulho no abismo do nervosismo, uma vez que, a única forma de ajudar a vítima é por meio do aparelho telefônico cujo alcance delimita o desvendar do incidente. Diante dessa realidade, o desenrolar dos nós atados das suspeitas revela uma história muito maior e trágica. 

Toda narrativa se faz em apenas uma sala com mais alguns policiais e uma antessala para assuntos privados, ou seja, perpassa a sensação de enclausuramento e de incapacidade de ação vivenciada pelo protagonista. Asger com suas mãos inquietas, transpira e esforça-se em cada ligação para solucionar o caso numa corrida contra o tempo. Simultaneamente, reflete sobre suas próprias atitudes como profissional e pessoa.

O telefone torna-se um personagem da história, pois por meio desse instrumento o filme é conduzido. A mesma importância se dá para o som, porquanto converte-se em um elemento narrativo mais significativo do que a própria imagem, já que assim como o personagem, o público não visualiza o decorrer da investigação e, sim, ouve os diálogos ou ruídos. As imagens nesse caso, são direcionadas para a progressiva situação emocional de Asger: deboche, preocupação, prestativo, irritação, aflição e culpa.

As reviravoltas da narrativa empregada de forma criativa pelo roteiro, demonstra total precisão na dosagem dos momentos de revelação dos fatos, e, promove uma imersão absoluta do espectador. Ao final, "Culpa", provoca duas importantes reflexões: os pré julgamentos feitos sem o conhecimento total de uma situação e  qual seria o mal que cada indivíduo tem vontade de remover. 
CineBliss *****


Ficha técnica: 

Culpa (Den Skyldige)
Dinamarca, 2018
Direção: Gustav Möller 
Roteiro: Emil Nygaard Albertsen, Gustav Möller
Produção:  Lina Flint
Fotografia: Jasper Spanning
Montagem: Carla Luffe Heintzelmann
Elenco: Jakob Cedergren, Jessica Dinnage, Jacok Ulrik Lohmann, Omar Shargawi 

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