"Eu, Daniel Blake" é um retrato de milhares de excluídos que lutam por suas dignidades


Atualmente, o Brasil vive um cenário de pessimismo em relação à política e economia, esse fator faz com que muitas pessoas cogitem deixar o país, em busca de melhores condições de vida. Todavia, essa crença de trabalho e oportunidades em um país desenvolvido, caí por água abaixo, em "Eu, Daniel Blake"(2016), do diretor Ken Loach (Ventos da Liberdade), ganhador da Palma de Ouro 2016. 

O longa metragem, tem como cenário a cidade de Newcastle - norte de Londres -, onde se encontra Daniel Blake (Dave Johns), carpinteiro com mais de 40 anos de experiência, que após sofrer um ataque cardíaco, é orientado pelos médicos à não voltar ao trabalho. Dessa forma, para se manter financeiramente, ele recorre ao governo para conseguir um auxílio. No entanto, para o recebimento dessa pensão, Daniel é submetido à uma avaliação física feita por um agente do governo, que contradiz a recomendação médica, afirmando que ele tem condições para trabalhar. 

Ao saber da decisão, Daniel, decide recorrer ao órgão governamental para explicar sua situação, porém, depara-se com um sistema burocrático, desumano, mecânico e falho. Essa mesma estrutura perversa, também atinge a jovem mãe solteira Katie (Hayley Squires) e seus dois filhos, quando são relocados pelo governo de Londres para Newcastle. Daniel e Katie, conhecem-se no local de atendimento do governo e a partir dali, iniciam uma profunda amizade, oferecendo suporte um ao outro.  

Nesse retrato amargo e real da vida de Daniel Blake, vê-se na figura desse personagem, um retrato de milhares de excluídos da sociedade, que lutam por suas dignidades. Em todo momento do filme, Daniel procura elucidar sua profissão e como lhe faz falta não ter mais condições físicas para trabalhar. Mesmo sem conhecimento do mundo digital e computadores, ele esforça-se para conseguir preencher a aplicação online requisita pelo governo, mas aparenta andar em ciclos sobre seu processo.

O roteiro provocador assinado por Paul Laverty, logra com uma narrativa complexa e triste, ao mesmo tempo sensível e humana. Concomitantemente, a fotografia clara proporciona um nível de realidade ainda maior para a história. Sem sombra de dúvida, o personagem de Daniel Blake é um herói para milhões de pessoas ao redor do mundo, que se identificam com sua jornada e com seus poderes humanos - generosidade, dignidade e determinação - para seguir adiante no labirinto desumano do sistema burocrático e capitalista.
CineBlissEK


Ficha Técnica: 

Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake)
2016, França/Reino Unido/ Irlanda do Norte
Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
Produção:  Rebecca O'Brien
Fotografia: Robbie Ryan
Montador: Jonathan Morris
Elenco: Dave Johns, Hayley Squires

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