Através de olhares poéticos "Abril Despedaçado" retrata a dura realidade de famílias inimigas no sertão nordestino
Em 1910 num solo nordestino consumido pela seca, duas famílias duelam por gerações para conquistar cada pedaço de terra, guiados pelo lema "olho por olho e dente por dente" eles permanecem em um ciclo vicioso de matanças e não veem alternativa para encerrar essa guerra. Essa triste e dura realidade da região Nordeste do Brasil é narrada no filme Abril Despedaçado do diretor brasileiro Walter Salles (Central do Brasil e Diários de motocicleta).
A obra cinematográfica começa com a morte do filho mais velho da família Breves pelo inimigo territorial, para cumprir a tradição o pai intima seu outro filho Tonho (Rodrigo Santoro) a vingar-se do assassinato assim que a camisa usada pelo falecido apresentar a coloração amarela, esse tempo de espera é uma regra que as famílias estabeleceram. O jovem aceita seu chamado para revanche em matar um membro da família inimiga, mas após o comprimento do seu dever começa a questionar a lógica de tanta violência. Pois na linha de sucessão de mortes, ele se torna o próximo da lista para a outra família cumprir com a obrigação da vingança. No funeral do falecido, Tonho consegue como trégua o período do amarelamento da camisa do morto, e após disso ele terá que vigiar a todo momento por sua vida. O pai do defunto esclarece para o jovem que cada segundo é um segundo a menos na vida dele.
O caçula dos Breves, Menino - que no decorrer do filme ganha o nome de Pagu por ser apaixonado pelo mar (Ravi Ramos Lacerda) - com uma personalidade mais questionadora ajuda Tonho a buscar por um novo caminho em sua vida e quebrar esse ciclo que atormenta sua família. A chegada da bela Clara (Flávia Marco Antonio) em um circo itinerante também é um fator importante para impulsionar a nova jornada do herói Tonho. Como o próprio nome da personagem Clara indica, ela representa uma luz para a vida dele pois traz em sua bagagem existencial a aura do feminino (que é ínfima da vida do jovem devido a falta de voz ativa da mãe), da aventura, do lúdico através do circo e acima de tudo da liberdade.
A questão da liberdade para a personagem principal se torna tão evidente que é retratada em duas cenas marcantes, uma junto de seu irmão Menino-Pagu que ao invés de ser balançado por Tonho no balanço, cede seu lugar para que o último venha a sentir o ar da liberdade, a cena é de extrema beleza pois traz o contraste da terra dura e seca com o céu azul. Já o outro momento é apresentado quando Clara se pendura em uma corda e Tonho a balança no ar. Simbolicamente essas duas situações representam uma libertação do domínio paterno sobre Tonho e anseios de se ver livre dessa triste tradição.
Nesse filme a jornada do herói não é de uma personagem, mas de duas, Tonho e Menino-Pagu que se unem para desatar o nó desse lastimável legado familiar. O jovem com seus anseios de se aventurar com o circo e o menino com sua imaginação em busca pelo mar.
A todo momento a trama traz elementos da questão do tempo, seja no relógio na cena do funeral em que o pai do morto diz a Tonho que cada segundo é menos um segundo em sua vida, como também nas imagens da roda, do maquinário de trabalho e do balanço.
A obra cinematográfica começa com a morte do filho mais velho da família Breves pelo inimigo territorial, para cumprir a tradição o pai intima seu outro filho Tonho (Rodrigo Santoro) a vingar-se do assassinato assim que a camisa usada pelo falecido apresentar a coloração amarela, esse tempo de espera é uma regra que as famílias estabeleceram. O jovem aceita seu chamado para revanche em matar um membro da família inimiga, mas após o comprimento do seu dever começa a questionar a lógica de tanta violência. Pois na linha de sucessão de mortes, ele se torna o próximo da lista para a outra família cumprir com a obrigação da vingança. No funeral do falecido, Tonho consegue como trégua o período do amarelamento da camisa do morto, e após disso ele terá que vigiar a todo momento por sua vida. O pai do defunto esclarece para o jovem que cada segundo é um segundo a menos na vida dele.
O caçula dos Breves, Menino - que no decorrer do filme ganha o nome de Pagu por ser apaixonado pelo mar (Ravi Ramos Lacerda) - com uma personalidade mais questionadora ajuda Tonho a buscar por um novo caminho em sua vida e quebrar esse ciclo que atormenta sua família. A chegada da bela Clara (Flávia Marco Antonio) em um circo itinerante também é um fator importante para impulsionar a nova jornada do herói Tonho. Como o próprio nome da personagem Clara indica, ela representa uma luz para a vida dele pois traz em sua bagagem existencial a aura do feminino (que é ínfima da vida do jovem devido a falta de voz ativa da mãe), da aventura, do lúdico através do circo e acima de tudo da liberdade.
A questão da liberdade para a personagem principal se torna tão evidente que é retratada em duas cenas marcantes, uma junto de seu irmão Menino-Pagu que ao invés de ser balançado por Tonho no balanço, cede seu lugar para que o último venha a sentir o ar da liberdade, a cena é de extrema beleza pois traz o contraste da terra dura e seca com o céu azul. Já o outro momento é apresentado quando Clara se pendura em uma corda e Tonho a balança no ar. Simbolicamente essas duas situações representam uma libertação do domínio paterno sobre Tonho e anseios de se ver livre dessa triste tradição.
Nesse filme a jornada do herói não é de uma personagem, mas de duas, Tonho e Menino-Pagu que se unem para desatar o nó desse lastimável legado familiar. O jovem com seus anseios de se aventurar com o circo e o menino com sua imaginação em busca pelo mar.
A todo momento a trama traz elementos da questão do tempo, seja no relógio na cena do funeral em que o pai do morto diz a Tonho que cada segundo é menos um segundo em sua vida, como também nas imagens da roda, do maquinário de trabalho e do balanço.
Um filme que causa
imensa emoção ao expor a realidade de uma família no sertão nordestino, e a falta de
opções para um caminho diferente ao qual na linguagem simbólica é representado pelo maquinário da produção da rapadura, que
gira, gira mais não sai do lugar. É interessante notar que essa mesma rapadura, forma de subsistência da família é o retrato da realidade deles, dura feita uma pedra.
Walter Salles nessa obra cinematográfica traz elementos do modelo de se fazer cinema no Brasil através da estética da fome que teve como precursor o diretor Glauber Rocha. O cineasta descreve a história com imagens tão belas que se torna uma poesia aos olhos do público e atuações marcantes que deixa qualquer pessoa emocionada com a jornada desses dois irmãos que se completam e se tornam um.
Walter Salles nessa obra cinematográfica traz elementos do modelo de se fazer cinema no Brasil através da estética da fome que teve como precursor o diretor Glauber Rocha. O cineasta descreve a história com imagens tão belas que se torna uma poesia aos olhos do público e atuações marcantes que deixa qualquer pessoa emocionada com a jornada desses dois irmãos que se completam e se tornam um.
CineBlissEK
Curiosidades:
- Antes de se tornar atriz Flávia Marco Antonio trabalhava em circo, em Abril Despedaçado faz sua estreia no cinema;
Ficha Técnica:
Abril despedaçado (Abril despedaçado)
2001, Brasil
Direção: Walter Salles
Roteiro: Daniela Thomas, Karim Ainouz, Sergio Machado
Produção: Arthur Cohn
Fotografia: Walter Carvalho
Elenco: Rodrigo Santoro, José Dumont, Luiz Carlos Vasconcelos, Wagner Moura, Ravi Ramos Lacerda, Flávia Marco Antonio
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