"Sing Sing" emociona ao expor as vulnerabilidades masculinas em um ambiente hostil
Quando o seriado "Os Sopranos"(1999) foi lançado, inicialmente parecia se limitar à uma narrativa de mais outra família de mafiosos nos Estados Unidos. No entanto, por trás da violência, havia uma jornada masculina que se desdobrava de maneira inédita, com o protagonista Tony Soprano (James Gandolfini), chefe da máfia, ingressando em sessões de terapias. Tal ação permitiu que o personagem despertasse para a capacidade de expor suas vulnerabilidades e abriu caminho para que outras figuras masculinas, tanto na TV quanto no cinema, confrontassem suas feridas, fraquezas e medos. Assim, iniciou-se um processo da desconstrução do estereótipo de masculinidade viril, forte e violenta que predominava na mídia.
Essa análise, destacada pelo autor Brett Martim na publicação de 2014, "Homens difíceis: Os bastidores do processo criativo de Breaking Bad, Família Soprano, Mad Men e outras séries revolucionárias", pode ser observada no lançamento desta quinta-feira (13) do filme "Sing Sing"(2023), do diretor Greg Kwedar, indicado em três categorias ao Oscar 2025, incluindo Melhor Canção, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator para Colman Domingo,
que interpreta o protagonista Divine G.
No longa-metragem inspirado em histórias verídicas de homens que cumprem pena em um presídio de segurança máxima que dá nome ao filme, tem-se através da arte no caso o teatro, o instrumento valioso para que tais detentos possam aliviar suas tensões, "escapar" de suas prisões, trafegar livremente por entre suas mentes e imaginação e, para além disso, expor seus sentimentos, medos e sonhos para os membros do grupo, o que contribui à eles desconstruir estereótipos associados ao gênero masculino.
Tal iniciativa chamada de Rehabilitation Through the Arts (RTA), que existe de fato encena desde obras de Shakespeare até criações autorais, incluindo algumas feitas pelos próprios detentos. Sob a perspectiva de Divine G, condenado de maneira injusta, o filme flerta na construção de uma narrativa coletiva que prioriza em aprofundar-se nos dramas de vários personagens, como o solitário Clarence "Divine Eye" Maclin, que é interpretado por ele mesmo.
Os dois personagens constroem ao longo do filme uma jornada de amizade que transcende as barras de segurança do presídio e possibilita que ambos transitem nas incertezas que cercam o processo de desconstrução da tal masculinidade tóxica, como na belíssima cena em que Divine G chora nos ombros de Clarence. Tal abordagem, que visa enaltecer as vulnerabilidades masculinas em um ambiente que chama para atitudes contrárias, é fruto do esfacelamento dos ideais que cercavam os comportamentos de tais "homens difíceis".
Com um ritmo preciso e sem exageros no tom de emotividade, "Sing Sing" sensibiliza uma perspectiva distinta do ambiente carcerário norte-americano em que a arte se faz prevalecer como combustível para o pulsar da vida e injeção de esperança.
CineBliss****
Ficha técnica:
Sing Sing (Sing Sing)
Direção: Greg Kwedar
Roteiro: Greg Kwedar,
Clint Bentley
Elenco: Colman Domingo,
Clarence Maclin,
Sean San Jose
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