"Maria Callas" retrata uma mulher em controle de sua vida em meio a iminência da morte
O cineasta chileno Pablo Larraín após conduzir as cinebiografias de "Jackie" (2016) e "Spencer" (2021), encerra sua trilogia de ícones femininos da sociedade ocidental com o lançamento amanhã (16) nos cinemas de "Maria Callas" (2024). A personagem título estrelada por ninguém menos que Angelina Jolie, assim como suas antecessoras tem sua narrativa centrada em fragmentos marcantes de sua jornada. Se com Jackei (Natalie Portman) ocorre após a morte do presidente John Kennedy e, com Diana (Kristen Stewart), antecede o pedido de divórcio com o príncipe Charles, em Maria pode-se visualizar os últimos dias de vida de uma das maiores cantoras de ópera do mundo.
Maria, ou La Callas dependendo de como queira ser chamada, aos seus 53 anos anseia por trazer de volta o brilho e a fúria de sua voz. Transitando em um abismo do que é real do que não é, a personagem relembra eventos marcantes de sua trajetória desde suas origens de miséria à sua ascensão como cantora e parceira do magnata grego, Aristotle Onassis (Haluk Bilginer). Esse olhar para o passado é feito por meio de um alter ego do diretor, o repórter Mandrax (Kodi Smit-McPhee), que ouve o testemunho e os segredos da diva.
Tal qual Jackie e Diana, Maria também se vê cercada por pessoas que lhe ditam o ritmo de sua rotina seja pela figura do fiel mordomo Giovanni (Alessandro Bressanello) quanto da cozinheira Bruna (Alba Rohrwacher), mas assim como as outras também transparece a cicatriz da solidão em sua alma. A cantora, em meio a iminência de seus dias finais decidi ter controle sobre suas escolhas tanto em optar pelo uso de medicamentos, ensaiar ou ir embora do teatro como até mesmo sentar em um café e ansiar por ser idolatrada. Como ela mesma diz em uma das sequências: "Eu quero estar no controle do meu fim".
Controle, provavelmente seja uma das ações que se faz presente nas entrelinhas da construção do filme e que dita a trajetória de Maria Callas. Tanto em sua juventude por meio de sua mãe que a obrigava a cantar para ganhar alguns trocados, quanto na vida adulta através do parceiro que não lhe permitia expressar seu dom. Já no prenúncio de seu ritual de despedida, a cantora tenta reencontrar sua voz o que remete para um possível processo de deparar-se com o grito interno de seu coração e, com isso obter pela primeira vez o controle sobre sua jornada.
As três protagonistas - Jackie, Diana e Maria - inseridas dentro de um universo praticamente
dominado por homens, ao terem seus nomes ou sobrenomes de solteira como destaques nos títulos dos filmes,
possivelmente aludem para o desejo de através dessa reivindicação expressarem suas subjetividades e poderem se libertar das amarras
que as reprimem.
Pablo Larraín ao expor sua visão sobre Maria, diferentemente de outras já retratadas pelo cinema consegue transpassar não apenas o universo glamouroso que a cercava, mas de uma forma precisa sem pender para os exageros retrata as feridas abertas de um passado que ainda expele seus ferimentos, as desilusões trazidas por romances e a melancolia de alguém que almejou ser ela mesma. Essa mistura de sentimentos em um tom meio mórbido pode ser visualizada na escolha da fotografia granulada que constantemente foca em imagens das folhas secas e caídas de outono em uma Paris, na década de 1970.
CineBliss****
Ficha técnica:
Maria (Maria Callas)
Estados Unidos, 2024
Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Steven Knight
Elenco: Angelina Jolie, Alessandro Bressanello, Alba Rohrwacher, Kodi Smit-McPhee, Haluk Bilginer
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