A ficção científica "M3gan" norteia o debate do grupo Jornada da Heroína com o tema "Amor Materno: Instinto natural ou construção social?"

 

Na continuidade do tema "Amor Materno: Instinto natural ou construção social?", o grupo Jornada da Heroína discutiu na última terça-feira (23), o filme "M3gan" (2022), do diretor neozelandês Gerard Johnstone. Com uma mistura entre os gêneros cinematográficos da ficção científica e o horror, a trama escancara o uso da tecnologia como substituta dos cuidados, no caso uma criança de aproximadamente 10 anos de idade. 

A menina Cady (Violent McGraw), enlutada pela morte precoce dos pais é obrigada a ir morar com a tia Gemma (Allison Williams), após o evento traumático. Sem saber ao certo como lidar com suas emoções e com sua cuidadora, a garota é instigada a conviver com uma boneca chamada M3gan, criada por sua familiar e considerada o maior avanço tecnológico desde o automóvel. 

Por meio do slogan "Com M3gan por perto, ela cuidará das pequenas coisas, para você passar mais tempo fazendo coisas realmente importantes", observa-se o quanto o cuidado com relação aos pequenos ainda não é visto como algo essencial para o futuro do planeta e, sim, algo dispensável para ser exercido por um robô. 

Tal máquina, assim como outras já introduzidas pelo cinema como Hal 9000, de "2001: Uma odisseia no espaço" (1968), do diretor inglês Stanley Kubrick ou até mesmo o andróide, Roy Batty, de "Blade Runner - O caçador de andróides" (1982), de Ridley Scott, também se vira contra sua criadora e questiona o sentido de vida vs morte. Sem sombras de dúvidas, as obras citadas estão aquém em nível de qualidade cinematográfica e performance artística, no entanto são exemplos que fundamentam a luta do aparato tecnológico pela sua sobrevivência. Nestes casos citados, estes veem a apresentar aspectos mais humanizados que os próprios humanos e provocando a incógnita de quem é a máquina e quem é o humano. 

A humana e criadora, Gemma, uma mulher branca, solteira, de alto nível escolar e workaholic, simboliza uma versão feminina do personagem literário Frankenstein, da autora inglesa Mary Shelley, no sentido de não medir as consequências de seus atos para criar seu robô/monstro. Tal qual, a mesma pode ser considerada a representação do estereótipo da cientista solitária teorizada pela pesquisadora Eva Flicker* ao expor as características de ser uma protagonista moderna e emancipada, sem parceiro amoroso, jovem até demais para suas competências profissionais tendo como único interesse sua pesquisa, mas que precisa da aprovação masculina e dos que estão no poder. 

Nessa sua curiosidade insaciável na área da robótica, Gemma desenvolve uma boneca que exerce praticamente todas as tarefas exigidas pelo papel social da maternidade: brinca, acalenta, lê histórias, dança, educa, disciplina, ouve e, em um nível extremo de cunho violento, protege a criança de qualquer tipo de ameaça. 

Enquanto tal, observa-se que mesmo com a criação de uma tecnologia voltada unicamente para o serviço desse ideal materno, tal incumbência ainda recai sobre a figura feminina, no caso Gemma que ao aceitar a responsabilidade dos cuidados para com Cady é salva pela menina tanto de M3gan como também numa possível alusão de sua vida "vazia". 

O próximo encontro do grupo Jornada da Heroína ocorrerá no dia 13 de agosto (terça-feira), às 19h30 com a discussão do filme "Clock" (2023), da diretora Alexis Jacknow. Inscrições através do e-mail: jornadaheroinaemk@gmail.com  

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