"Jornada da Heroína" celebra quatro anos e aborda o filme "A filha perdida"

 

Celebrando quatro anos de existência, o grupo Jornada da Heroína abordou na última terça-feira (4) o filme "A filha perdida"(2021), da diretora e atriz norte-americana Maggie Gyllenhaal, inserido na temática "Amor materno: Instinto natural ou construção social?"O título cinematográfico, fruto da obra literária de mesmo nome da escritora italiana Elena Ferrante, centra na exposição da maternidade real através das personagens Leda (Olivia Colman/Jessie Buckley) e Nina (Dakota Johnson). Ambas, assim como outras tantas mulheres-mães, moldadas pelo dispositivo materno ideal* - negligenciar as próprias demandas para dedicar-se prioritariamente às necessidades da criança -, veem-se em um processo de identificação ao demonstrarem a exaustão, a sobrecarga e a desigualdade de gênero com relação aos cuidados de suas filhas.

A primeira retratada com 48 anos, ao tirar férias sozinha em uma praia na Grécia tem sua tranquilidade e silêncio interrompida pela chegada de uma família um tanto quanto barulhenta. No grupo, ela começa a testemunhar as ações da jovem Nina exercendo seu papel de mãe de uma menina em torno de três anos de idade. Em suas observações, Leda logo é tragada para seu passado repleto de memórias sobre sua própria experiência enquanto mãe de duas meninas. 

Nessa construção de narrativa sob o olhar atento de Leda, tem-se a jornada de uma mulher-mãe cujo exercício de uma maternagem real sem a ofuscação do glamour da idealização do amor materno, expõe ao público suas vulnerabilidades, o conflito entre a profissão vs maternidade, a imaturidade e os sentimentos de insegurança e culpa.

Se num primeiro momento, Leda ao ser questionada por Nina sobre suas recordações da maternagem demonstra certo desconforto, abstendo-se de dar uma resposta ao dizer não se lembrar. Logo, tal silenciamento é quebrado quando confessa para a mesma ter abandonado suas filhas por três anos e sentido maravilhada. Com tal admissão, ela permite expor a dificuldade de admitir para si e para os outros que foi feliz ao realizar tal ato, ao mesmo tempo que chora pela culpa por não ter conseguido exercer a maternagem ideal, tão exigida pela sociedade. Nina, por sua vez, também vê nesse espaço de abertura uma possibilidade para reconhecer seus momentos de vivência desagradável com relação aos cuidados maternos em tempo integral. 

Ao problematizar as diversas camadas envolvendo os cuidados e a atenção demandadas por uma criança que geralmente são direcionadas em sua maioria para as mulheres, não à toa a simbologia da boneca presente no filme como um alusão à doutrinação desde cedo que a menina recebe para cuidar de tal figura passiva, o filme transita com sensibilidade e de um modo palpável a dicotomia presente na vida de uma mulher-mãe dividida entre a experiência insubstituível da maternidade, do amor dado e recebido, e, do outro lado as frustrações, o estresse cotidiano e o sacrifício de si mesma. 

O próximo encontro do grupo Jornada da Heroína ocorrerá no dia 2 de julho (terça-feira), às 19h30 com a discussão do filme "M3gan" (2023), do diretor Gerard Johnstone. Inscrições através do e-mail: jornadaheroinaemk@gmail.com   

*Termo cunhado pela Dra. Valeska Zanello.  

 


 

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