"Minha vida sem mim" inspira a ânsia pela vida através do prenúncio da morte


Uma das maiores dicotomias existentes na filosofia, possivelmente, seja a questão da morte versus vida. Esse dilema que aflige milhares de pessoas em todo mundo, constantemente encontra espaço para ser debatido e refletido nas artes, seja na literatura, nas artes plásticas, na música ou no cinema. Partindo desse pressuposto, o blog CineBliss listou o filme "Minha vida sem mim" (2003), da diretora espanhola Isabel Coixet para integrar "A jornada pelo cinema dirigido por Mulheres", uma vez que a narrativa apresenta com sensibilidade o processo de despertar e vivenciar a plenitude da vida, quando se depara com a iminência da morte. Algo um tanto quanto paradoxo.

A encarregada desta missão trágica mas com contornos poéticos é Ann (Sarah Polley), uma jovem de 23 anos, casada com Don (Scott Speedman) e mãe de duas filhas pequenas, Penny (Jessica Amlee) e Patsy (Kenya Jo Kennedy). Essa família inserida em um contexto de realidade social humilde, onde residem em um trailer no quintal da mãe de Ann, perpassa a imagem de felicidade e amor mesmo com todas as adversidades econômicas.

Ao ser diagnosticada com câncer e com pouco tempo de vida, a protagonista opte por dar vazão aos sonhos nunca antes pensados. Para isso, ela cria uma lista com as possíveis coisas à fazer antes de ser destinada para sua morte prematura.

Com um ritmo melancólico pelo fato da despedida, e ao mesmo tempo com vigor pela instigação da personagem em realizar seus últimos desejos antes do adeus, o drama perpassa de modo afetuoso as inquietudes, os sentimentos desgastados - a relação materna -, e as ambições esquecidas de Ann. Esse conjunto de fatores, quiçá são frutos não apenas da gravidez precoce, mas também da própria alienação da protagonista em relação ao trabalho exaustivo de seu corpo proletário como faxineira noturna de uma Universidade.

É notável o enfoque dado pela cineasta nesta questão do ritual de ida ao trabalho. Não só por parte de Ann como também aos personagens que a cercam como a mãe, o marido e a amiga, o que denota um certo teor de crítica em relação ao corpo como máquina do sistema capitalista. Essa posição ganha maiores proporções quando a jovem mãe caminha no supermercado e reflete sobre o consumismo ou os comercias publicitários que as filhas assistem. 

Isabel Coixet, cuja trajetória cinematográfica já é notória por um repertório de protagonistas mulheres como "Elisa e Marcela" (2019), "A livraria" (2017), "Ninguém quer a noite" (2015) e "A vida secreta das palavras" (2005) - os dois primeiros títulos disponíveis no serviço de streaming Netflix -, demonstra uma clara alusão em dar voz às sutilezas e complexidades das relações femininas, e como isso reverbera na sociedade que as cercam.
CineBliss****





Ficha técnica: 

Minha vida sem mim (My life without me)
Canadá/Espanha, 2003
Direção: Isabel Coixet
Roteiro: Isabel Coixet
Produção: Esther García, Gordon McLennan
Fotografia: Jean-Claude Larrieu
Elenco: Sarah Polley, Mark Ruffalo, Scott Speedman, Alfred Molina, Amanda Plummer

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