"Um banho de vida" é o antídoto de otimismo perfeito para injetar em tempos difíceis


As notícias que assolam o Brasil e o mundo não são das mais positivas, muitas vezes resta as pessoas se esconderem no escurinho do cinema e torcerem para a história proporcionar alguma dosagem de esperança e afeto. No caso do filme francês que estreia hoje nos cinemas "Um banho de vida" (2018), do diretor Gilles Lellouche, que integrou a seleção oficial 'fora de competição' do Festival de Cannes em 2018, essa dosagem vem acompanhada de pitadas de redenção, otimismo, união e, muito bom humor.

Na comédia misturada com drama, o depressivo Bertrand (Mathieu Amalric) está com seus mais de 40 anos de idade, há quase dois anos sem trabalhar, dependente de vários remédios e imerso em uma crise existencial. Em um arranjo de destino, ele começa a praticar nado sincronizado masculino, em uma piscina do bairro, sob o comando de Delphine (Virginie Efira), uma ex-atleta de sucesso que sofre com alcoolismo. Ao lado dos praticantes de nado Marcos (Benoît Poelvoorde), Laurent (Guillaume Canet), Simon (Jean-Hugues Anglade), Basile (Alban Ivanov) e Thierry (Philippe Katerine), Bertrand começa a vislumbrar uma luz no fim do túnel para o seu distúrbio. 

Por sua vez, cada um desses homens também encontram-se imersos em problemas sejam eles financeiros, amorosos, familiares ou de saúde. Desse forma, eles decidem se inscreverem para participarem do Campeonato Mundial de Nado Sincronizado, na Noruega. 

Dominados pelas sensações de frustrações e fracassos, esses personagens encontram em uma prática esportiva considerada para mulheres, um novo propósito de vida. Não só isso, através da dedicação e força de vontade eles começam a despertar o lado feminino de cada um, como se estivessem reordenando seus aspectos masculinos frente às transformações das mulheres na sociedade ocidental. 

Ao estarem despidos de suas vestimentas - apenas com a sunga e a toca -, em um ambiente de vulnerabilidade como o banheiro após os treinos, esses homens discutem sobre suas vidas sem julgamentos e plantam sementes para uma nova compreensão de suas jornadas e uma nova perspectiva de se relacionar com o sexo oposto. Como por exemplo, Simon em sua busca de aproximar-se da filha, Laurent em aceitar a mãe doente e Bertrand em fazer sexo com sua esposa.  

O roteiro primorosamente bem construído, apresenta a quantidade precisa tanto na dramaticidade ao aprofundar os dilemas dos personagens quanto na carga de jocosidade expressa em diversas sequencias. A cena em que alguns membros do grupo se deslocam para uma loja de departamento para adquirir os uniformes, é de puro êxtase e gargalhada. 

A entrega de cada ator em mesclar rigor técnico com carisma a toda prova, proporciona um banho de entrosamento e bom humor, trazendo a superfície alguns temas um tanto quanto em desuso atualmente como a ligação afetiva, a cumplicidade e a superação. Como acontece em uma das sequencias finais, em que todos os homens estão dentro da piscina fazendo a apresentação, e, a câmera registra os corpos unidos embaixo da água, demonstrando um retrato honesto das relações humanas unidas para um bem comum, embalada ao som de "Easy lover", de Philip Bailey e Phil Collins.

Sem sombra de dúvida, "Um banho de vida" é muito mais que um banho é uma enxurrada de positividade, leveza e amor, o que o torna imperdível para nutrir o coração do espectador em tempos sombrios e incertos. 
CineBliss*****


Ficha técnica: 

Um banho de vida (Le  Graind Bain)
Bélgica, 2018
Direção: Gilles Lellouche 
Roteiro: Ahmed Hamidi, Gilles Lellouche, Julien Lambroschini
Produção: Alain Attal, Hugo Sélignac, Patrick Quinet
Fotografia: Laurent Tangy
Montagem:  Simon Jacquet
Elenco: Mathieu Amalric, Benoît Poelvoorde, Guillaume Canet, Jean-Hugues Anglade, Alban Ivanov, Virginie Efira, Philippe Katerine

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