"Me chame pelo seu nome" transborda o que é de mais profundo no ato de desejar e amar


O mais recente trabalho do diretor italiano Luca Guadagnino, "Me chame pelo seu nome" (2017), recebeu quatro indicações ao Oscar 2018, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator para Timothée Chalamet, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Canção Original. O filme produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, tem como cenário as lindas paisagens italianas, no verão de 1983. Esse lugar paradisíaco e lânguido, emerge como um elemento nutritivo para linda história de amor entre Elio e Oliver, como há muito tempo não se via no cinema. 

Os personagens interpretados respectivamente por Timothée Chalamet e Armie Hammer, são conduzidos elegantemente num jogo de sedução, de flertes não correspondidos, de desejos, para serem arremessados no tabuleiro dos mistérios do amor. A trajetória dos dois de se entregarem a flecha de Eros, envolve a sensação de vulnerabilidade, de riscos, de magia e de contentamento. A disposição com que eles se deixam contagiar-se pelo desejo, pelo amor e uma possível perda, são particularidades do pulsar da vida, que encontram em ambos corações destemidos à aventurar-se por essa trama irracional. 

O personagem de Oliver convidado pelo pai de Elio, Mr. Perlman (Michael Stuhlbarg) para passar as férias em sua casa ajudando-o com trabalhos acadêmicos,  demonstra ser um estudante regrado, energético e sedutor, com uma fome para experimentar a vida. Já Elio, um rapaz bem educado, conhecedor de música, literatura, história, arte, entre outras coisas, tem aflorando em seu corpo um turbilhão de hormônios e um coração ainda "virgem".

Como narrado no próprio filme através de um dos diálogos do pai "A natureza tem maneiras astutas de encontrar seu ponto mais fraco", o encontro de Elio e Oliver ilustra a falta de controle que se tem sobre a vida quando somos surpreendidos por sentimentos tão profundos, que muitas vezes nem sabemos existir. A entrega total em vivenciar esses sentimentos, é um dos atos mais assustadores e mágicos que o indivíduo pode realizar e, é isso de tão lindo visto na jornada de Elio e Oliver. A fluidez do envolvimento dos dois pode ser simbolizado com as diversas sequencias de água corrente, vistas em várias cenas do longa, como os banhos no rio ou a da cachoeira. 

Se no filme "O segredo de Brokeback Mountain" (2005), de Ang Lee - que também retrata um romance homoafetivo - a fotografia era pautada por um leque de cores frias, em "Me chame pelo seu nome", é acentuado por tonalidades quentes, claras e vivas, intensificando a explosão de desejo e paixão. Assim como o corpo, se no primeiro longa era coberto por roupas grossas de inverno, no segundo, é descoberto e exposto para admiração.

A trilha sonora que embala o espectador a mergulhar no envolvimentos dos dois personagens, passa por composições clássicas, pop italiano e americano, e, encanta os corações com "Mystery of love", de Sufjan Stevens, indicado ao Oscar de Melhor Canção Original.

Duas sequencias merecem destaques pois são de uma embriaguez de emoção sem tamanho. A cena em que Elio conversa abertamente com o pai e, este lhe confidencia seus mais profundos sentimentos, demonstrando um acolhimento paterno e uma elucidação didática sobre a vida. O outro momento, já no final com Elio observando as madeiras da lareira queimando, transborda todas as dores de sua alma, gerando no espectador uma certa identificação daqueles que já sofreram por um grande amor.  Um filme para iluminar corações amedrontados e nutrir a alma com puro amor. 
CineBliss 
*Visto no Festival do Rio 2017



Ficha técnica: 

Me chame pelo seu nome (Call me by your name)
Estados Unidos/ Itália/ França/Brasil, 2017
Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: James Ivory
Produção: Emilie Georges, Howard Rosenman, James Ivory, Luca Guadagnino, Marco Morabito, Peter Spears, Rodrigo Teixeira
Fotografia: Sayombhu Mukdeeprom
Elenco: Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg, Amira Casar

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