"A comunidade" trilha caminhos de liberdade e amor, ao mesmo tempo, explora as vulnerabilidades das relações humanas


Thomas Vinterberg, diretor dinamarquês de "Festa em família" (1998), "A caça" (2012) e,  precursor do Movimento Dogma 95, presenteia o público com o seu mais novo filme "A comunidade" (2016), que concorreu ao Urso de Ouro em Berlim esse ano. A história, que se passa na década de 1970, flerta com as relações humanas, desde dos momentos saudáveis de puro contentamento, para o das fragilidades e desequilíbrios. Uma pincelada dos laços fraternos que são construídos e, fragmentados ao longo da vida.

Em "A comunidade", o casal Erik (Ulrich Thomsen) e Anna (Trine Dyrholm) ao herdarem a enorme casa de infância do primeiro, decidem convidar alguns colegas para morarem com eles, com intuito de dividirem as despesas e, concomitantemente, criarem laços fraternos de uma família. Anna, mais entusiasmada com a ideia, logo escolhe um amigo de longa data de ambos, para ser a primeira pessoa à participar dessa proposta libertadora. Junto de Freja (Martha Sofie Wallstrøm Hansen), filha do casal, os quatro, dão andamento no processo de seleção para habitar esse espaço coletivo. No total de sete adultos, uma adolescente e uma criança, essas pessoas acolhem com afeto o plano da comunidade.

À partir desse elo criando pelos integrantes, nota-se o desenvolvimento do suporte um ao outro, o respeito aos diferentes pontos de vista, a disposição para ouvir as necessidades de cada um, e, a aceitação da decisão da maioria para um convívio em harmonia. Num ambiente com esse tipo de proposta, observa-se um espaço para a fomentação da troca, supostamente, não dando licença para um dos temores do ser humano, a solidão.

Todavia, a sintonia do convívio dos moradores da casa, é surpreendida com ares mais pesados, frente à revelação do caso amoroso de Erik, com a jovem estudante Emma (Helene Reingaard Neumann). Com base nessa situação, Anna, dedica-se a demonstrar uma normalidade perante todos e a si mesma, sem permitir espaço para sentimentos que corroem sua alma. Como em "Festa em família", a comunhão na mesa de jantar, torna-se o ambiente perfeito para lavar-se a roupa suja, ali, Anna, desemboca a falar suas inseguranças, fantasias e desejos, gerando uma sensação de desconforto e tensão.

A atriz Trine Dyrholm, presenteia o espectador com uma atuação profunda e sensível - que lhe rendeu o Urso de Prata de Melhor Atriz -, pontuando de maneira significativa o labirinto de transformações, pelos quais Anna é submetida. A completa doação afetuosa de Anna, para o ideal da comunidade, fragmenta-se com a chegada de Emma,  demonstrando as fragilidades das relações humanas. A intensidade da luz, que em várias cenas recaí sobre a personagem, simboliza uma possível cegueira, perante os acontecimentos.

Com uma trilha sonora marcante, composta até por uma canção de Elton Jon, "A comunidade" ilumina o coração do espectador, de como seria uma jornada repleta de amor e liberdade, ao lado de pessoas queridas. No entanto, assim como na vida real, Thomas Vinterberg, introduz o outro lado da moeda, exteriorizando a vulnerabilidade, o medo e o apego do indivíduo. Certamente, um teste de provocação e comoção, o que torna o filme imperdível.
CineBlissEK



Ficha técnica: 

A comunidade (Kollektivet)
2016, Dinamarca/ Países Baixo (Holanda)/ Suécia
Direção: Thomas Vinterberg
Roteiro: Thomas Vinterberg, Tobias Lindholm
Produção: Morten Kaufmann, Sisse Graum Jørgensen
Fotografia: Jesper Tøffner
Elenco: Trine Dyrholm, Ulrich Thomsen, Fares Fares, Martha Sofie Wallstrøm Hansen, Helene Reingaard Neumann, Julie Agnette Vang, Magnus Millang

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