"Mais forte que bombas" revira as dores deixadas pelo luto


O luto na sociedade Ocidental é um tema com pouco espaço para discussão, compreensão e aceitação, para o diretor norueguês Joachim Trier (Oslo, 31 de agosto) a questão da morte é o mote para seu novo trabalho "Mais forte que bombas" (2015), que concorreu ao Palma de Ouro em Cannes ano passado. O filme, lançando em circuito nacional na última quinta-feira (7), apresenta uma família esfacelada devido ao falecimento da mãe, a fotógrafa Isabelle Reed (Isabelle Huppert). O pai Gene (Gabriel Byrne) e seus dois filhos, Jonah (Jesse Eisenberg) e Conrad (Devin Druid), vivenciam a complexidade desse fato através da falta de comunicação entre eles. 

Como homenagem a composição do trabalho fotográfico de Isabelle feito em áreas de conflito ao redor do mundo, uma agência decidi reunir todo seu material e criar uma exposição. Esse fato, faz com o filho mais velho Jonah, casado e com filho, volte para a casa do pai, com a tarefa de ajudar a organizar as imagens. Gene, vê nessa situação uma chance de aproximação com os filhos e uma possível conversa sobre a verdadeira causa da morte de sua esposa. Todavia, Conrad e Jonah não estão abertos para essa comunicação, e cada um, tenta esconder seus reais sentimentos.

Num cenário onde não se vê uma comunhão entre os três, como por exemplo uma refeição juntos, o diretor proporciona uma reflexão sobre essa ausência de comunicação e afeto de pessoas tão próximas. Gene, não consegue dialogar com Conrad, cuja inquietações juvenis o faz passar muito tempo na frente do computador com jogos violentos. Ao mesmo tempo, esse pai também tenta uma conexão com Jonah, sem sucesso. Como falar sobre o luto se as pessoas envolvidas procuram absorverem-se com assuntos diversos para não resgatar a dor. Como desbloquear essa tristeza se não há espaço para interação. Esse ciclo vicioso cria um afastamento ainda maior na família, onde cada um relembra a figura da mãe de uma maneira diferente. 

Através de uma narrativa não linear, o filme também exploração a personagem de Isabelle tanto como profissional (com imagens chocantes de guerras) quanto como uma mãe afetuosa e uma esposa zelosa. Os episódios com a família retrata uma mulher com impasses para encontrar-se em sua própria casa, de pertencer aquele núcleo, mas que ao mesmo tempo carrega feridas visíveis e ocultas de sua profissão viciante.

A elegante fotografia com closes em praticamente todas as cenas, perpassa através dos olhos a dor de cada personagem e a incomunicabilidade de desabafar o sofrimento. A magnífica montagem através do ritmo lento, oferece mais ênfase nesse processo de "vida-morte-vida" elaborando um certo ar poético. Como no belíssimo começo do filme, onde Jonah segura a mãozinha de seu filho recém-nascido, uma possível metáfora para o ciclo da existência humana, com a morte gerando vida.

Vale ressaltar o excelente trabalho dos intérpretes que transmitem através de cada cena as emoções com sofisticação, delicadeza e encantamento. Enfim, uma obra cinematográfica de extrema sensibilidade e cuidado ao retratar questões profundas e complexas do ser humano de um modo fascinante e comovente. 
CineBlissEK




Ficha Técnica: 

Mais forte que bombas (Louder than bombs)
2015, Dinamarca/ França/ Noruega
Direção: Joachim Trier
Roteiro: Eskil Vogt, Joachim Trier
Produção: Albert Berger, Alexandre Mallet-Guy, Marc Turtletaub, Ron Yerxa, Suzanne Savoy, Thomas Robsahm
Fotografia: Jakob Ihre
Elenco: Isabelle Huppert, Jesse Eisenberg, Gabriel Byrne, Devin Druid, David Strathairn, Amy Ryan

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