"Mistress America" dialoga com duas gerações de mulheres em busca de autoconhecimento


"Mistress America" o novo filme do diretor Noah Baumbach (Enquanto somos jovens; Frances Ha) traz novamente a parceria com a atriz Greta Gerwig como protagonista e também autora do roteiro, trabalho anterior havia sido "Frances Ha" (2012). Como nos filmes passados, o cineasta brinda a história com o cenário da cidade de Nova Iorque com sua magia e fascinação para retratar os temas da dificuldade do adulto em encontrar seu lugar, a artificialidade do ser humano em projetar ser uma pessoa "legal" quando na verdade tem apenas o vazio dentro de si e também a relação de companheirismo criada através do laço da amizade.

No longa recente, a jovem Tracy (Lola Kirke) recém chegada na metrópole para estudar, enfrenta dificuldades para socializar-se na universidade, dessa forma decide entrar em contato com sua futura irmã mais velha Brooke (Greta Gerwig) para fazerem algo juntas. O encontro das duas causa deslumbramento e admiração de Tracy por Brooke, pois esta introduz o lado descolado da cidade de Nova Iorque e consequentemente representa num primeiro momento uma mulher moderna, independente, decidida, criativa e acima de tudo contagiante. Como a própria personagem descreve sobre o fato de estar ao lado de Brooke "Estar com ela é como estar em Nova Iorque".

Tracy ao entrar em contato com esse universo hype materializado em Brooke, resolve escrever um romance sobre a vida dessa mulher e, com isso tentar entrar no clube de literatura da universidade. Nesse processo de escrita a jovem aprofunda-se cada vez mais em observar a rotina de sua musa, coletando informações e de uma certa maneira julgando seus comportamentos, já que Brooke costuma culpar várias pessoas por supostos fracassos de sua jornada. 

Esse fator de atribuir os percalços em outra pessoa, leva Brooke numa viagem até à casa de sua ex-amiga para esclarecer algumas questões do passado. Nessa visita ela conta com a companhia de Tracy e dois amigos universitários, que também passam por um processo de crise. Essa aventura até Connection para a lavagem de roupa suja gera um encadeamento de situações embaraçosas, cujo resultado é uma sessão de autoconhecimento para Brooke e Tracy.

A atriz Greta Gerwig assim como em "Frances Ha" mostra mais uma vez seu lado cômico, cativante e cheio de vida. Sua personagem inicialmente repleta de glamour e agitação torna-se em algo decadente e vazio, de uma mulher com milhares de ideias criativas para uma pessoa com dificuldades para colocá-las em prática. Essa descrição de Brooke não deixa de ser uma crítica à sociedade atual com a intensa conectividade entre pessoas, no qual cria-se a ilusão de que seguidores com perfis sociais atraentes são pessoas interessantes e legais, mas que mascaram uma realidade completamente diferente.  

Um filme cativante pelo discurso abordado em dois ângulos distintos, de um lado a jovem de 18 anos Tracy, em busca de um lugar na sociedade, e do outro Brooke com seus 30 anos, confusa em enxergar a si mesma e num estágio complexo de tentar concretizar algo que represente sua personalidade. Essas duas jornadas são construídas através de um roteiro bem estruturado, engraçado e crítico. Pode-se dizer que novamente a união de Greta Gerwig e Noah Baumbach gera um filme com temas similares dos anteriores, mas com nuances específicas para "Mistress America".
CineBlissEK




Ficha técnica: 

Mistress America (Mistress America)
2015, Estados Unidos
Diretor: Noah Baumbach
Roteiro: Greta Gerwig, Noah Baumbach
Produção: Lila Yacoub, Noah Baumbach, Rodrigo Teixeira
Fotografia: Sam Levy
Elenco: Greta Gerwig, Lola Kirke, Kathryn Erbe

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